terça-feira, 18 de junho de 2024

Anita O'Day, Billy May e Cole Porter: um luxo só

 Por Edmilson Siqueira

Ela não é muito conhecida no Brasil, mas nas décadas de 40 e 50 do século passado, era uma das mais respeitadas vozes do jazz dos Estados Unidos. E devia ter seus fãs por aqui também. Morreu em 2006, aos 87 anos. Poderia ter vivido menos, pois durante um bom tempo teve os famosos "problemas com drogas", que, aliás, lhe deram o apelido de "Jezebel do Jazz". Mas foi uma das grandes cantoras, a ponto de alguns críticos a situarem ao lado do trio sagrado formado por Ella Fitzgerald, Sarah Vaughan e Billie Holiday. Não era pouco para uma branca entre as grandes cantoras negras dos EUA.

Anita O'Day começou a gravar em 1947, frequentando, como vocalista, orquestras famosas (Gene Kruppa, Stan Keaton) e só parou alguns anos para fazer excursões pela Europa com um trio. Deixou um legado de quase 40 discos com músicas de todos os mais importantes compositores dos EUA. 
O CD que tenho dela, muito bom por sinal, é uma compilação só com músicas de Cole Porter. São quinze faixas da fina flor de um dos maiores compositores que já andaram lá pelas terras de Tio Sam. E, para botar uma cereja no bolo, Anita O'Day está, no disco, ao lado de Billy May, compositor, arranjador e trompetista que, claro, foi o responsável por todos os arranjos. 
O CD é uma cópia do LP do mesmo nome, mas com uma vantagem: os recursos da nova mídia proporcionaram a adição de mais seis músicas além das doze originais. Das seis, as duas últimas do disco são gravações das duas primeiras com novos arranjos. Um luxo. 
Gravado em 1959, o disco foi tão bem-sucedido que, no ano seguinte, os dois repetiram a dose gravando outro disco com músicas de um único compositor. O escolhido foi Richard Rodgers. Pra quem não conhece, Rodgers escreveu músicas para mais de 40 peças de teatro e incontáveis sucessos que hoje são clássicos da música dos EUA, como "Blue Moon", "My Funny Valentine", "This Can't Be Love" e muitos outros. Qualquer dia compro esse outro CD, se encontrar por aí, e comento aqui. Mas hoje o papo é Anita O'Day e Billy May com Cole Porter.
As dezoito faixas, como já disse, representam a nata desse grande compositor e quase todas se transformaram em standards do jazz. Como o disco foi gravado em 1959 e Porter morreu em 1964, o repertório escolhido abrange praticamente toda sua carreira de compositor, pois há músicas de 1929 até 1955.
Os arranjos são perfeitos. Como Billy May, além maestro e arranjador, era trombonista, as participações dos metais são ótimas e dominantes ao longo do disco.
E pra provar que é tudo coisa fina, na voz suave e marcante de Anita, aqui vai a relação das músicas escolhidas:
Just One Of Those Things (de 1935), Love For Sale (1930), You'd Be So Nice To Come Home To (1943), Easy To Love (1936), I Get A Kick Out Of You (1934), All Of You (1955), Get Out Of This Town (1938), I've Got You Under My Skin (1936), Night And Day (1932), It's Delovely (1936), I Love You (1944), What Is This Thing Called Love? (1929), You're The Top (1934, My Heart Belongs To Daddy (1938), Why Shouldn't I? (1935), Fom This Moment On (1953) e as duas últimas- Love For Sale e Just One Of Those Thing - com arranjos diferentes.   
Encontrei o disco para ser ouvido no YouTube gratuitamente   (https://www.youtube.com/playlist?list=OLAK5uy_kzudE24QIipyN2GeZDzqBqD-u1qPs_l4Q) mas só com as doze músicas do LP original. Já no Mercado Livre ele está à venda (usado - 80 reais) com as 18 músicas.



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