quinta-feira, 27 de janeiro de 2022

A ópera que Cazuza não viu

Por Ronaldo Faria

O CD Cazas de Cazuza – A Ópera-Rock é de 2000. Dez anos após a sua morte, vítima da Aids. Dos discos que homenagearam de alguma forma o grande poeta da minha geração, este é certamente o que eu mais curto. A obra de Cazuza ou o que foi feito sobre ele, tenho tudo em CD ou DVD. Um dia escreverei sobre um ou mais deles. Nunca é demais falar desse carioca da Zona Sul e do mundo, frequentador do Baixo Leblon, das noites e madrugadas do Rio, morto em 7 de julho de 1990, aos 32 anos. Com uma carreira musical curta, de dez anos, ele ajudou a revolucionar o rock brasileiro, num período que esse gênero trouxe novidades incríveis para o cenário nacional. Na verdade, é desse período a maior safra de grupos do rock tupiniquim. A lista é imensa: Os Paralamas do Sucesso, Ira, Barão Vermelho (onde Cazuza esteve), Titãs, Kid Abelha, Legião Urbana, Capital Inicial, Engenheiros do Hawaii, Blitz, Ultraje a Rigor, RPM, Biquíni Cavadão, Nenhum de Nós, entre outros. 

Infelizmente não assisti esse musical ao vivo à época. Mas descobri há anos o seu som. Ele traz temas como o preconceito, sexo, drogas, amor, bares, exclusão social, noites e desemprego, cotidiano da gente Ou seja, a vida de muitos de nós quando nos jogamos à vida. Escrita e dirigida por Rodrigo Pitta, essa ópera voltou no ano passado aos palcos. Em dois atos, mostra o mundo de jovens do Baixo Leblon através da música do seu poeta. Quando foi lançada, em 2000, marcou a chegada de um estilo que os palcos brasileiros não estavam acostumados: um espetáculo musical com ares da Broadway.

Este CD – que pode ser ouvido na íntegra no Spotify (https://open.spotify.com/album/46IIkUE0ndfZbtuhobhNw9) – é uma entrega a muito daquilo que Cazuza nos legou. Em Brasil, a interpretação está incrível. Algo que o seu criador certamente aplaudiria por manter e ampliar a essência de uma música cada vez mais atual, diante de um país entregue à sua própria sorte. Mas não só. No pot-pourri que reúne Blues da Piedade e Pro Dia Nascer Feliz, a essência de várias vozes a invadir o universo de Cazuza, assim como em Obrigado a se misturar com O Quereres, de Caetano Veloso. 

Na verdade, todo o disco é de se ouvir várias e várias vezes, como já fiz muitas e muitas vezes. Os arranjos são bem feitos, todos atores/cantores compõem uma plêiade que vai além de sete e chega aos oito donos do palco com maestria absoluta. A verdade é que o CD, quando roda, passa rápido, apesar de ter 70 minutos de duração. E quando chega ao fim com Um Trem Para as Estrelas, Pro Dia Nascer Feliz e O Tempo Não Para, a vontade é que Cazas de Cazuza continue a trazer o poeta de volta. Mas, como trazer de volta quem nunca se foi? Nessa ópera-rock, a certeza de que o artista se vai mas sua obra está perpetuada às futuras e incontáveis gerações.

Se quiser saber mais sobre Cazas de Cazuza vá a https://pt.wikipedia.org/wiki/Cazas_de_Cazuza

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