sexta-feira, 25 de fevereiro de 2022

Revista do Samba faz jus ao nome

Por Edmilson Siqueira 

Eles estão há 23 anos na estrada, já gravaram cinco discos e realizaram shows pelos quatro cantos do mundo. É o Revisa do Samba que tenho acompanhado há um bom tempo, depois que comprei o primeiro CD do grupo, gravado em 2002. Os outros eu tenho arquivado no micro e são todos de ótimo nível. Formado por Letícia Coura na voz e cavaquinho, Beto Bianchi no violão e voz, e Vitor da Trindade na percussão e voz. 


O primeiro disco, Revista do Samba, foi feito na Traumton Records/Robdigital e dele constam clássicos do samba, todos com arranjos novos e muito bem interpretados.  


Logo de cara, após uma vinheta, o grupo entra com Lata D'Água, de Luís Antônio e Jota Júnior (dois capitães do Exército, no Rio), o samba campeão do Carnaval de 1952 na voz de Marlene. Aqui, sem frescuras, o samba é apresentado limpo e correto, com percussão, violão o e cavaquinho.  

A faixa seguinte, Atire a Primeira Pedra, de Ataulfo Alves e Mário Lago, é apresentada em dueto, quase à moda dos antigos conjuntos de samba. Gravado por Orlando Silva em dezembro de 1943, o samba estourou no Carnaval de 44 e até hoje é cantando por aí. Aqui, a gravação começa à capela, mas logo ganha o ritmo e os acordes do grupo.  

O grande Monsueto Menezes e Ayrton Amorim assinam a próxima música, nada menos que Me Deixa em Paz, um sucesso do Carnaval de 1952, que chegou a ser gravada até por Milton Nascimento. O Revista do Samba não deixa por menos: também executa a música em andamento lento, num dos momentos mais marcantes do disco. 


Mais um clássico na fila: De Conversa em Conversa, de Lucio Alves e Haroldo Barbosa, eternizado por Marlene e muitos outros cantores de MPB. O samba, de 1947, mas com jeito de bossa nova e próprio para ser cantada com divisões quase jazzísticas, sobrevive até hoje com uma modernidade de dar gosto.  


O samba, quase hino, A Voz do Morro, de Zé Kéti, de 1956, chega com um violão lento e uma batucada forte que domina todo o resto da interpretação do Revista, sumindo apenas no final onde predomina novamente o violão, numa espécie de introdução para a próxima música: Leva Meu Samba, do mestre Ataulfo Alves, composta em 1941. 


O mais antigo samba de que se tem conhecimento e a primeira gravação do gênero, Pelo Telefone (Donga e Mauro de Almeida), de 1917, não podia faltar nessa coletânea de clássicos. Gravado com toda reverência pelo Revista.  


Assis Valente, outro histórico compositor de sambas, comparece na voz do Revista com Por Causa de Você, Yoyô, de 1937 que recebeu interpretação humorística do grupo, de acordo com a letra do samba. 


Outro clássico que até hoje povoa nossa memória e que por muito tempo ainda ficará por aí é O Sol Nascerá, de Cartola e Elton Medeiros, escrito em 1960. As apenas oito linhas da letra são acompanhadas por palmas sincopadas evidenciando sua beleza melódica. 


O Samba e o Tango, de Amado Régis, de 1937, talvez não seja tão conhecido pelo nome, mas bastou ouvir as primeiras frases ("Chegou a hora, chegou, chegou) que vem à lembrança um samba rasgado com um intermezzo de tango que lhe cai muito bem. 


A música seguinte foi composta em 1935, mas nesse ano da graça de 2022 ganhou nova gravação para ser trilha de novela da Globo. Por aí percebe-se a perenidade de Tic-Tac do Meu Coração, de Alcyr Pires Vermelho e Walfredo Silva. Composta em 1935, foi gravada por Carmem Miranda aqui e, em 1942, nos EUA. O Revista faz jus à fama da música com uma bela gravação. 

Não Vou Pra Casa, a declaração de amor ao samba de Roberto Riberti e Antonio Almeida, composta em 1941, é apresentada de modo singelo o correto. 


Adoniran Barbosa, nosso Poeta do Bixiga, não poderia faltar numa coletânea de clássicos do samba. E é ele o autor do penúltimo samba do disco, Apaga o Fogo, Mané, o triste samba da mancada que a Inês dá no Mané, na inspirada letra e melodia do grande Adoniran.  

E, pra encerrar, o pai do samba de asfalto brasileiro, o genial Noel Rosa. Três apitos, a enigmática música do Poeta da Vila fecha, com chave de ouro, esse disco dedicado ao samba e com um repertório divinamente escolhido pelo Revista. 


Um fim digno de um disco delicioso desse grupo que, por todos os caminhos em que se envereda, dá conta do recado. Vida longa ao Revista do Samba.  


Os cinco discos deles estão em apresentações especiais no Youtube nesse endereço: https://www.youtube.com/c/RevistadoSambaOficial 

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