Por Ronaldo Faria
Concreta daqui que eu concreto acolá. E vamos construindo esquinas e ruas soturnas, prédios de muitos andares e centenas de vidas, misturados de cimento e areia nas retinas. Areia que permeia o tempo que passa e repassa, transpassa emoções e senões. Todas que se bebem e se jogam a salvo. O são. Ou, quem sabe, serão. Entre sermões de um padre alcoolizado e um bardo que solta sua voz à noite que se esparrama entre corpos e copos. Todos a copular bocas ocas e mãos bélicas que correm cada medida dos órgãos úmidos ou eretos.
Concrete-se daqui que eu me concreto
acolá. Juntos, cantaremos lê-la-ia-laia. E faremos planos, voaremos em planadores,
nos faremos plenos aos píncaros do fim e do nada. Nadaremos entre luas loucas e
areias frias, seremos o início e o infinito, de presto. Afinal, de que presta
vivermos longe um do outro, ocultos em sombras que definham ao Sol? De que vale
nossa dormida insone, caídos em cones que um bêbado equilibra na esquina
qualquer? Agora, apenas vivamos ávidos a vida que ninguém nos deu. Sejamos
nosso próprio Deus.
E se assim for, que cada concreto
recém úmido se forme em escultura que nenhuma cultura saberá decifrar. Depois,
que tudo fique largado lá – além de mim e de você – para quem depois quiser
escrever. Em baladas travestidas de vida, tangos tangidos de solidão. Diluídos
em pedras de gelo, ungidos de paixão. Pouco de quase nada, ínfimos desejos de
qualquer criação. Para no depois, de um após suado e criado em servidão,
sejamos qualquer um. Eu a ser somente você. Você, meu não. Sementes apócrifas
de um poema nunca concreto – quase nada, só canção.
Ao ouvir o Zeca Baleiro,
na sua calma do coração