terça-feira, 30 de abril de 2024

Gonzagueando

 Por Ronaldo Faria

 

A terra carcomida pela vida e a seca ressecam os olhos que sequer podem mais chorar. No lugar, a se largar de solidão e remissão, beatas choram a morte como se a vida fosse algo a se esquecer no limiar. A parir fetos natimortos, crianças que sorvem na farinha a rinha que a vida dá como sabor, elas se vestem de negro e oram para um Deus que se esqueceu de lá chegar. O padre, quando raro passa, raramente tem na Bíblia a resposta pela dor que se segue e se firma. A fungar no cangote da próxima mulher, o homem pouco se importa com a cria que no bucho venha se embuchar. Sobe e desce, penetra e tira, goza feito sanguessuga e vai, no trote do cavalo sedento de um poço.

No alpendre, a sonhar para além do sol inclemente que chega no chão e mata e destrói como fosse Hanói em décadas atrás, a morena olha para a distância que há entre o sanfoneiro embriagado e o luar brincando de iluminar mais que o lampião que morre em cheiros de querosene e findar. Quem sabe um vaqueiro não perderá uma rês ou reza por lá. E a porteira rangerá para o amado entrar. Seu nome será Severino ou Amadeu? Pouco importa. A porta estará sem trinco ou trema. Ele poderá entrar e saciar sua sede de água e amor. Na cama de lençol branco e quarado, o sangue estará pronto para ser derramado. Amanhã, no arado, o gado suará no seu eterno trabalho.

Zé Geraldo

 Por Ronaldo Faria A viola viola o sonho do sonhador como se fosse certo invadir os dias da dádiva que devia alegria para a orgia primeira...