quarta-feira, 1 de fevereiro de 2023

Guinga e Paulo Sérgio Santos

 Por Ronaldo Faria


Notas denotadas de sabor auditivo e pueril revelação de tudo um pouco no pouco tanto que o quase nada traveste de muito. Quem sabe uma ilusão infinita que roda na madrugada louca de lua cheia a segurar a fita carmim que sobremaneira permeia a doce brisa que corre longínqua. Aqui, na pequena parte que o aparte apraz e dá, me solto num imbróglio de não saber se vale a pena viver ou morrer. Termino cada segundo como o taciturno palhaço a rir de si mesmo, ensimesmado e a esmo.

Botas cheias de barro de uma chuva tardia e seca, ensacada na pilhéria etérea que a saudade permeia e doa. Que dói e corrói. No espernear da música erudita/popular. Feito pipoca que o feitor joga para os pombos e púberes seres que anseiam o semear de milhos e moças de pernas faceiras e abertas. Nas feiras fulgentes e dominicais um cais afasta a fresta da derradeira festa que esconde a cama onde corpos delimitarão o lugar em que se deve deixar a tristeza e o dormir do depois a ressonar.

Um violão, uma clarineta, um solfejo soberbo de se esmerar por qualquer lugar. Na lucidez da loucura sepulcral, o silêncio que irrompe na noite fria que se esfria para receber o resto de luz solar. Quem sabe a soberba do amor infiel, a loucura da traição em fel, a ilusória sapiência que a ignorância do amanhã desfaz. No dedo perdido e bêbado que suja as lentes dos óculos, um pedaço de ósculos nunca dados, traquejos de suores lavados, gracejos de bocas sujas das línguas que tanto, no entanto, se cruzaram.

No limiar de arranjos e anjos tresloucados e calados, palavras infinitas no finito falar definitivo do altivo bêbado que se faz poeta e presto. Quem sabe um viajante que arfa na geografia de um corpo que desce no gole que o copo permite e dá. Um infante infame que faz da fome a rosa que desabrocha entre as coxas desnudas e soltas da amante infante que volta a cada noite e que desfaz a realidade em pedaços de sono mal dormido, carcomido de minutos moribundos e brandos do corpo ao lado.

Afinal, tudo passa rápido e, como um incauto, grandiloquente e demente, temente de cair do trapézio num picadeiro inexistente, vou a brincar de ninguém. Um arauto e infausto ser a descer no inferno eterno onde o demônio, solene, nos espera de terno. Assim, quem sabe, criança e nada ser, me faça vivente numa esfera que a saudade de um tempo permeie de fugazes saudades e cicatrizes que vêm e vão como um trem fora dos trilhos, descarrilhado e solto para viver até aonde sua fumaça o levar.

Assim, no torpor que se repete a cada voz e verso, temporão de um tempo que tinha quitanda, luz de lampião e palavra vã, vou transpondo estradas de terra, mares e marés, ondas cheias de espuma densa, rios negros e invasores, senhores de sua fúria a voltear saudades infindas e crenças distintas de algo que a ampulheta da areia de anos e horas verteu. Por fim, no infindo crer que algo poderá haver, vou fluindo na imensidão que a loucura e a ternura ainda me dão. Um dia qualquer me entrego à eterna solidão.

Zé Geraldo

 Por Ronaldo Faria A viola viola o sonho do sonhador como se fosse certo invadir os dias da dádiva que devia alegria para a orgia primeira...