quarta-feira, 17 de janeiro de 2024

O nome, ao som de vários,,,

 Por Ronaldo Faria

 

Dambrowisky. Aonde seus pais arranjaram esse nome? Pro inferno, quem, em sã consciência, dá esse nome a um filho? E que escrivão, filho do caralho mole, deixou registrar? Ele não sabia como responder a si mesmo. “Depois reclamam que eu bebo que nem louco. Vai ter esse nome que ninguém sabe sequer soletrar, nem meu. Pimenta no cu dos outros é tempero”.
Pobre Dambrowisky, com nome de estrangeiro num mundo destrambelhado. Desde os poucos anos na escola as professoras o chamavam de Dam. Os amiguinhos nunca souberam da sua verdadeira versão. “Graças a Deus, senão...” – pensava. Ser com arritmia de nascença, mental e cardíaca, sobrevivia. Como um ET. E pra si dizia: “Foda-se o resto. Viverei até prescrever”.
Ninguém sabia que ele via, ouvia, vivia, sobrevivia, queria só orgia. Na verdade, ninguém ouvia seus pesadelos noturnos, seus turnos dobrados na fábrica de arame farpado, seus duplos saltos carpados a cada dia que vencia com medalha de ouro nunca vista. Do outro lado da linha, no orelhão há muito desabilitado, a mulher em questão só queria ouvir que era um tesão. Dambrowisky, que era um mero sobrevivente vivente, um erro da evolução humana, já não sabia sequer se queria responder.
Camelô de produtos do Paraguai, sonhava em comercializar o pó da Colômbia. “Todo mundo merece uma vida melhor”. Diante da Estação Leopoldina, abandonada à mercê, submergia nas promessas do amigo Charlie Brown. Queria mostrar o Rio de Janeiro a quem quisesse, e pagasse para isso, claro. De preferência em moeda estrangeira. Mas Dambrowisky sabia que a periferia (subúrbio no Rio) nunca chega à Zona Sul. Na quimera que ouvira algum dia, seguia seu trajeto de melancolia. Num canto de bar, um poeta clandestino chorava em desatino. “De que adianta fazer poesia marginal se ela não passa nem no sinal?” Do outro lado das redes sociais, quem via cagava e andava no destino...
 
Rápido e presto: Dambrowisky morreu sozinho. Num daqueles dias em que o dia se esmaeceu de nuvens sombrias e o sonho de um paladino. Na lápide sobre um chão calcinado de calor, não souberam escrever seu nome. Virou “algo com nome de uísque”. Aliás, a foto é minha, no Rio de Janeiro.

Zé Geraldo

 Por Ronaldo Faria A viola viola o sonho do sonhador como se fosse certo invadir os dias da dádiva que devia alegria para a orgia primeira...