Por Ronaldo Faria
Mística imodéstia, dessa que
parece não querer holofotes ou xotes nunca dançados, faça-se história e
retórica. Estoico a escrever nova palavra que vocabulário nenhum aceita,
retórico na verborragia e na magia de não saber de onde vem a inspiração, faço-me
astro e pusilânime coadjuvante. Na mira daquele que enxerga além do mirante, o
ausente e perpétuo, delirante e claudicante escriba que nada sabe. Aos sábios
que se esfalfam de pronomes e nomes, antônimos e sinônimos, regras mil de saber
escrever, minhas loas eternas. Afinal, sei que algum colou por aqui para procrastinar
a grande mentira que há décadas estamos a contar.
Severino, que não é nordestino
qualquer, segue na subida da rua a brincar de alguém ser. Ri e branqueia a lua
com seus dentes de dentadura de porcelana. Pagou a última parcela no mês que já
se foi. E agora, na brisa quieta e branda que corre as esquinas, sobe a ladeira
para parar no seu único lugar: um barraco simulacro de vida e largar. Logo, irá
se largar no sofá que não há. Irá dormir, talvez, a sonhar com a tez da amada,
mesmo sem saber se ela existe. Talvez, num momento inerte no seu mundo e
inexistente na mente, far-se-á pródigo e biltre. Frágil em suas dúvidas e forte
nas suas andanças nunca feitas. A driblar desapegos e criar chamegos (mesmo longínquos),
Severino sobe no seu caminhão cheio de paus e araras e rima felicidade com saudade.
A espantar mosquitos proscritos à vela que queima, vai a marchar feito fosse um
marechal. E brinca de bola jogada num pasto ressecado, transita claudicante nas
trilhas findas, passeia como quem anseia a última ceia. Ele sabe que a morte se
aproxima e, ensimesmado, naufragado e prostrado na varanda que não existe, apenas
anseia um seio para dormir neste dia.
De repente a ausente bate a
porta para perguntar se há incenso para cheirar. Nessa hora se pensa: porque
não pode se viver em outro lugar? Afinal, como o som repete, “besta é tu”.
II
III