sexta-feira, 10 de maio de 2024

Atabalhoado e sonoramente retardado

 Por Ronaldo Faria


O menino treme de medo quando ela, no carro que percorre a Fortaleza de quase 50 anos atrás, diz que não o levará a um motel. Menino, ele tem medo de tremer na hora final. Na história, Lampião, com certeza, está a ele olhar (o olha até hoje, duplamente). "E se falhar com a sobrinha-neta? Ainda bem que Corisco e Labareda já se foram. Meu pescoço não foi ou seria cortado e meu lugar no ônibus que matou minha cadeira no Rio Itapicuru não estava ocupado desse corpo infausto (me perdoem o casal que foi pular um carnaval de Salvador que nunca houve para eles)". 
Celidônio, tristonho e bisonho ser apócrifo e insano, performático e atávico, catatônico e afônico palhaço, sabe que a ilusão de um teatro sem cortinas ou coxia nunca seria igual ou desigual. A felicidade, que foge a cada ano que a idade chega e se aconchega em nós, sobrevoa e voa feito avião carmim. O incesto presto e certo ignora a nora ou cunhada, sob a alcunha de doideira amalucada, que foi o desejo do louco que sobrevive ao próprio medo. No enredo ensandecido da trama carcomida, o inseticida que só mata as loucuras e mundos díspares que a bebedeira abre de xacras mil. No céu anil que já não há, o anel que o bedel de cortes antigas fez questão de apagar. Para Celidônio, o indômito bagaço de sonho num engenho.

Zé Geraldo

 Por Ronaldo Faria A viola viola o sonho do sonhador como se fosse certo invadir os dias da dádiva que devia alegria para a orgia primeira...