quinta-feira, 25 de janeiro de 2024

A ouvir Tiê 2

 Por Ronaldo Faria


Dança esquizofrênica e frenética numa “casa de dança” de pais de santos tântricos, loucos de bebedeiras mil, enganadores do destino, simplórios em desatino e um ou outro que de lucidez não têm nada e nada têm. Logo abaixo, um oceano inteiro e uma cidade que olha o quanto é linda, entre ladeiras, paralelepípedos, epítetos mil. Sob o escuro da lua dorme um céu de anil. No quarto de pedras, que um dia foi celeiro de escravos ou cova de barris de aguardente, corpos ardentes e queimados de sol vivem o solstício de um algo qualquer. Homem e mulher. João e Maria, Petrônio e Andriele, Sebastião e Franciele, os nomes são somente um arauto do cordel que se esvai. Ambos sequer sabem por que estão lá. Fora, um bêbado canta algo que traz larilalá... Nos ladrilhos que o tempo tombou como da humanidade, um misto de pássaro que canta a saudade que lhe apraz. Detrás de tudo, segundos profetizam o istmo que há entre o amor e a ilusão. Ao fim, no fim, a solidão. A mansidão das ondas que quebram em sofreguidão na praia. Ao nada, olhares múltiplos e brisa quente que logo farão do sono um sonho caliente. Na esquina, o apaixonado carente cochila na Ladeira da Misericórdia e rola abaixo num frigir de corpo matinal.

Zé Geraldo

 Por Ronaldo Faria A viola viola o sonho do sonhador como se fosse certo invadir os dias da dádiva que devia alegria para a orgia primeira...