quarta-feira, 4 de maio de 2022

Toda a ternura de Al Jarreau

Por Edmilson Siqueira 

Quando eu espeto o pendrive no carro, a primeira música que aparece é "Mas que Nada", o grande sucesso mundial de Jorge Ben Jor. Só que o arranjo é diferente, começa com um bom batuque de samba, evolui para uns metais e entra um coro com a introdução famosa para, logo em seguida, surgir um cantor norte-americano cantando em português, num honesto esforço de dizer as palavras como elas soam pra nós.  


Pois esse cantor é ninguém menos que Al Jarreau, que nos deixou em fevereiro de 2017, às vésperas de completar 77 anos. Só para situar o leitor no tamanho de Al Jarreau, ele foi o único cantor a ganhar três Grammys em três categorias vocais diferentes. Suas qualidades de transformar qualquer música em algo diferente e, muitas vezes, melhor, talvez seja única.  


O disco que abre com o nosso Jorge Ben Jor, cuja música talvez tenha sido a mais "respeitada" em sua forma original de todas as outras onze, se chama "Tenderness", referência à segunda música, "Try a Little Tenderness", outro sucesso mundial. Foi gravado em 1993, onze músicas em Los Angeles e uma em Nova York.  

O disco todo, aliás, é feito de clássicos de alguns gêneros, como diz o texto da contracapa. Al decidiu, depois de ganhar os três Grammys em categorias vocais diferentes - R&B, pop e jazz, fazer um disco recheado dessas três categorias. 

"Mas que Nada", não se encaixa em nenhuma delas, mas tudo bem, ficou ótima a versão.  


Depois de cantar Try a Little Tenderness, numa interpretação de tirar o fôlego, é a vez do pop ser representado pelo primeiro sucesso de Elton John, "Your Song", no qual Al Jarreau passeia com toda a categoria que sua voz lhe representa.  


O jazz vem em seguida, num clássico que, se não era jazz na sua origem, vários grandes instrumentistas puxaram "My Favorite Things" para o gênero. Aqui, a música é apresentada na companhia da soprano lírica Kathleen Battle, o que dá mais brilho ainda ao trabalho. 


Como o disco é recheado de clássicos de três gêneros, os Beatles não poderiam ficar de fora. Do vasto repertório da banda, Al Jarreau pescou uma pérola de Paul McCartney - "She's Leaving Home". à já melodiosa música, Jarreau empresta todo seu talento vocal e perpetra novo arranjo, tornando tudo mais tenso e, difícil missão, nada fica a dever à gravação original. Eu diria que ficou até melhor.  


Outra que não poderia faltar é "Summertime", uma das músicas mais regravadas do mundo e, por isso mesmo, difícil de nela colocar novos elementos que diferenciem de tudo que já foi feito em torno da melodia do espetáculo "Porgy and Bess". Mas Jarreau, talvez influenciado pelo "Mas que Nada" de Jorge Ben, tasca um acentuado ritmo de samba, o que lhe proporciona vários malabarismos vocais. E, claro, ficou ótimo.  


O lado compositor de Al Jarreau aparece em três faixas: "We Got By", "You Don't See Me" e "Dinosaur", essa última em parceria com Marcus Miller e Robby Scharf. As três são ótimas. 

Pra encerrar, "Wait for the Magic" e "Go Away Little Girl" completam esse disco que eu recomendo a quem quer ouvir música muito boa. 


O CD está à venda nos bons sites do ramo e pode ser ouvido na íntegra no YouTube em https://www.youtube.com/watch?v=tCbwd7tcm6g&list=PL7gp579CMkT8kvW9agRTRRO3BeBEIOtml . 

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