segunda-feira, 11 de março de 2024

Itamar eterno Assumpção

 Por Ronaldo Faria


O poeta manda a mulher esquecer seus cotovelos, que devem estar prostrados (creio) sobre a mesa. Na luminária que brinca de sombrear retinas, rotundos e redondos homens a desejam, mas têm medo de decifrar seus medos diante dos seios que sobressaem do vestido vermelho, revestido de tafetá. Era para ser uma noite a mais, dessas que bronzeiam o sol de tanto luar e torneiam corpos despojados e despejados nas camas traquitanas e infinitas. Nos sonhos hediondos e irrisórios não há lugar para tardes vazias ou poesias. Talvez um navio perdido no mar que seca a cada paixão. Senão, a mágica farsa de sobrevoar o deserto de cada ilusão. Antropofagia diária rumo à morte que fica mais perto a cada minuto diminuto no cuco que há muito deixou de cantar ou contar novas e priscas eras. Na mesa, um manjar quieto e quente a derreter vira sobremesa nenhuma. No espanto de quem se esconde em cada canto ou pranto, a noite fria se esparrama na fórmica da cozinha. Na gélida saudade forjada em feridas, a certeza incerta de que muito há que chegar para depois se perder. Sob a volúpia da bebida mais barata para sobreviver no mês que se fará seguinte na sequência entre a fuga e a demência, o poeta perpetua sua presença, furtiva de si e amiga maior. Em tom de dó, mas sem dó daquilo que se foi, o cantor traça o andor sobrevivente e vivente da própria desgraça pouca. Rouca, a voz interior vocifera. Feito rima, a sentença brinca de ser eterna. Mas falta a perna que se alisa e se aperta quando quilômetros correm rumo ao prazer.

-- Senhor que inexiste, esteja em riste na porta do paraíso para conter o encontro do homem e da filha/cadela antes de, juntos, se unirem em cinzas. Conto com esse mistério etéreo para que a treta que hoje existe frutifique.


Zé Geraldo

 Por Ronaldo Faria A viola viola o sonho do sonhador como se fosse certo invadir os dias da dádiva que devia alegria para a orgia primeira...