segunda-feira, 1 de janeiro de 2024

Cambada de Minas

 Por Ronaldo Faria


O vento do ventilador ventila na noite quente que aquece e aquiesce o homem que dedilha a sua própria sina. No quadrilátero mínimo e ínfimo que um espaço arquitetônico dá à tônica do espaço, a sorte que um sortilégio não antevê o fim para logo. Em solilóquios afônicos, a voz que quase não sai. Os dedos ainda dedilham em frenético arquétipo o tépido desenrolar frenético que esgota o tempo que ainda virá. Perto, sentado no bar que espera que a esquina vire uma reta sem fim, Sebastião, vulgo Tião, teoriza sobre a vida em Bogotá. “Será que lá é como aqui ou acolá?” Faltava na mesa um colombiano para a tese corroborar. O jeito é compor algo mais para caber no parágrafo seguinte, como um pedinte da poesia distante.

Ambos, antropofágicos seres que os frágeis ditames da vida enterram a uma eternidade inexistente e pertinente, divagavam e vagavam nas letras e pensamentos que só o tempo traz. Na performance que só o teatro sem palco e plateia dá, vão transitando o cotidiano de cada segundo que o coração ainda dá. Em copos cheios e anseios de verem um seio a cair nas bocas rotas, num lambe-lambe que só o fotógrafo retrógrado dá, vão descortinando veredas e ansiar. No oceano distante e equidistante do além-mar, os versos e reversos de algo que segue adiante. Na metamorfose depois da fimose de batom, um frígido ouvir de vozes a buscar um caminho que, no fim, vai ser o próprio e mesmo indelével e sofrido enfim.

“Amigo, traz mais uma pro tempo destemperar”, disse Tião, proscrito homem e trabalhador. “Porra, vou ter de levantar de novo para buscar a cerveja”, pensava o poeta asceta que apenas queria escrever, sorrir ou chorar. No meio de tudo, quase em luto temporão, a noite brilhava no seu escuro colorido. “Quanto tempo ainda falta para o tempo terminar?” – perguntaram os dois. No derredor, gente que não conhece o fundo de um poço vazio e sem água que espera uma chuva em torpor. Quem sabe um louvor que ignora o horror que os pesadelos, em desmazelo, trarão logo mais. Na imensidão que esmera a sofreguidão, os portais sem abrem e se fecham à espera de mais um igual e desigual torpe e lindo amanhecer.

Zé Geraldo

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