sábado, 6 de agosto de 2022

Vinicius e Caymmi juntos num palco

Por Edmilson Siqueira

Foi o velho e saudoso amigo J. Toledo, e eu me lembro que era um ensolarado domingo de julho, quem me deu duas preciosidades que ele retirou de seu baú de LPs: "Vinicius/Caymmi no Zum Zum com o Quarteto em Cy e o conjunto de Oscar de Castro Neves" e "A Música de Edu Lobo por Edu Lobo e Tamba Trio", ambos da gravadora Elenco de Aloísio de Oliveira. Do segundo deverei me ocupar outro dia. Hoje, vou me dedicar a Vinicius e Caymmi.  


O LP que Jotinha me deu, lá se vão, provavelmente, mais de duas décadas, estava meio maltratado pelo manuseio em festas regadas a muito uísque e cerveja, nas velhas vitrolas dos anos 60 do século passado, mas ainda dava para ouvir e bem. É um show gravado em estúdio, como explica Aloísio na contracapa, show esse que “teve tal repercussão nos nossos meios artísticos que não podemos arriscar uma gravação ao vivo”.  


Vinicius conduz, com seu talento de embaixador, a festa no palco da boate Zum Zum no ano da graça da 1967. Começa lendo uma carta que ele escreveu, em 1964, para Tom Jobim, no dia 7 de setembro: “Você já passou, Tonzinho, uma noite de 7 de setembro, na França, num quarto de hotel sem qualquer perspectiva?” lamenta o poeta, acrescentando que, na Embaixada brasileira em Paris, estava ocorrendo a maior festa, com Baden Powell ao violão.  

Mas, amarguras de um "exílio" dourado à parte, o que vale muito mais é a música: "Bom Dia Amigo", "Berimbau", "Tem Dó de Mim", "Broto Maroto", "Minha Namorada", "Saudades da Bahia" e "...Das Rosas", (as 5 primeiras de Vinícius com Baden ou Carlos Lyra e as duas últimas de Caymmi) compõem o tal do lado A do elepê. No lado B há um pouco mais de Caymmi com "História de Pescadores", "Dia da Criação" (poema de Vinicius), "Aruanda" (Lyra e Vandré), "Adalgiza" e "Formosa" de Baden e Vinicius) e um grand finale com todos cantando. 


A produção do disco, do próprio Aloysio de Oliveira, é impecável e foi feita de modo que o show ficasse registrado num disco de estúdio tal qual foi apresentado na Zum Zum. Vinicius, à época, estava já definitivamente engajado na MPB, deixando de vez a carreira diplomática. Na década seguinte encontraria Toquinho e, com ele, uma nova safra de grandes sucessos, depois das parcerias com Tom, Baden e Lyra.  


Caymmi já era um grande nome, já ostentava cabelos brancos e o show foi uma espécie de apresentação da fina música do baiano a um público mais jovem, com o aval de Vinicius, claro. A sequência formada pela obra-prima "História de Pescadores" e pela poesia "Dia da Criação" (aquela famosa do “Porque hoje é sábado”) é um desses momentos antológicos da arte que deveriam ser tombados como patrimônio da humanidade.   


O disco todo pode ser ouvido na página do Instituto Memória Musical Brasileira: https://immub.org/album/vinicius-e-caymmi-no-zum-zum  e também no Youtube: https://www.youtube.com/watch?v=mg52HWjPrUE .  E ainda pode ser comprado por aí, nos bons sites do ramo. 

Zé Geraldo

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