terça-feira, 7 de maio de 2024

Sergio Mendes, um perene sucesso

 Por Edmilson Siqueira


Sergio Mendes é, sem dúvida, o mais bem sucedido artista brasileiro no exterior. E não só nos Estados Unidos. Seus discos são vendidos também na Europa e no Japão. Se não atingem números estratosféricos de vendas hoje, a perenidade das vendas é marca de um sucesso longevo.
Essa lembrança me veio à mente com a chegada do CD Four Sider, que eu comprei no Mercado Livre. Lançado em 1988, ele traz, em 21 faixas, um resumo da fase mais bem sucedida em termos de vendas de discos do pianista brasileiro. Depois dessa época, em que as vendas diminuíram, seu prestígio só aumentou e hoje ele é venerado tanto por antigos fãs, como pela nova geração de músicos dos EUA.
Comprei o CD pois, embora conheça muita coisa dele e já tenha captado algumas faixas na Internet, não tinha um disco com seus grandes lançamentos do século passado. Four Sider preenche essa lacuna.
Sergio Mendes saiu do Brasil ainda na década de 1960. Quem pensa que ele foi buscar o sucesso no exterior, se engana: saiu praticamente forçado pela ditadura que, a partir de um divertido bilhete seu para um amigo, acabou caindo das garras de um governo ignorante e sua repressão. Não entenderam a mensagem e pensaram tratar-se de um grande subversivo. O amigo para o qual endereçou o bilhete, foi vítima também da mesma ignorância. Era um escultor e, em seu ateliê, a polícia descobriu o que pensou ser uma escultura de Lenin, comunista que tomou o poder na Rússia em 1917. O busto retratava o pai do escultor, que era apenas parecido com Lenin.
Diante dessa brutalidade e com um filho recém-nascido (o motivo do bilhete ao amigo) Sergio Mendes não teve dúvida: se mandou para os EUA, onde já tinha amigos e poderia levar uma vida mais tranquila, preocupado apenas com sua arte e podendo cuidar bem de sua família.
O sucesso não demorou a chegar. Craque na bossa nova e ciente do gosto norte-americano pelo som brasileiro, juntou as ideias e criou um som próprio, transformando sucessos daqui e de lá num espécie de pós-bossa nova jazzística que os americanos adoraram.
Mas que Nada, de Jorge Benjor, foi a primeira mostra de que ele estava lá para ficar. O disco chegou entre os dez primeiros das paradas da época (paradas americanas, da Bill Board e outras, sérias) e o LP que essa música puxou vendeu muito também. Em seguida, gravou uma música do Beatles que, embora de grande qualidade, tinha ficado meio perdida entre os megassucessos dos Fab Four. Sergio Mendes com seu grupo (o Brazil '66) deu um tratamento de sambinha bossa nova a The Fool on the Hill que simplesmente alcançou o topo das paradas e transformou o brasileiro em ídolo por lá.
Depois de passar por duas gravadoras, acabou se firmando na A&M Records, dos amigos Herbet Alpert e Jerry Moss, onde continuou criando sucessos, às vezes nas fórmulas bossa-nova-jazz e outras, mais fieis aos originais.
O disco Four Sider é um retrato perfeito da obra do século passado, mas isso não significa que Sérgio Mendes parou por lá. Poderia ter parado se fosse apenas o dinheiro a lhe interessar, pois ficou rico. Construiu uma enorme casa em Los Angeles e nela um estúdio de gravação completo. O marceneiro que estava fazendo a parte de madeira do estúdio, lhe disse que estava estudando para ser artista de cinema. Sergio Mendes apreciou o fato e desejou boa sorte ao rapaz. Alguns anos depois o viu estrelando um filme. Era Harrison Ford.
No século 21, já gravou cinco discos. Desses eu tenho Timeless, onde ele revisita alguns sucessos em companhia de artistas de Rap, de Stevie Wonder e outros. Ou seja, com mais de 80 anos, continua ligado no som atual e emprestando a ele seu talento. 
As vinte e uma músicas que compõem Four Sider são as seguintes:  Mais Que Nada (Jorge Ben), One Note Samba/Spanish Flea (Jon Hendricks / Antônio Carlos Jobim / Newton Mendonça), Bim Bom (João Gilberto), Look Around (Alan Bergman / Marilyn Bergman / Sergio Mendes), (Sittin' On) The Dock of the Bay (Steve Cropper / Otis Redding), Watch What Happens (Norman Gimbel / Michel Legrand), With a Little Help from My Friends (John Lennon / Paul McCartney), The Look of Love (Burt Bacharach / Hal David), Norwegian Wood (John Lennon / Paul McCartney), Wave  (Antônio Carlos Jobim), After Midnight (J.J. Cale), Chelsea Morning (Joni Mitchell), The Fool on the Hill (John Lennon / Paul McCartney), For What It's Worth (Stephen Stills), Day Tripper (John Lennon / Paul McCartney), Crystal Illusions - Memórias de Marta Saré - (Guarnieri / Lani Hall / Edu Lobo), País Tropical (Jorge Benjor), Ye-Me-Le (Chico Feitosa / Luís Carlos Vinhas), Reza (Rui Guerra / Edu Lobo), Promise of a Fisherman (Dorival Caymmi), After Sunrise (Oscar Castro-Neves / Tião Neto).
Várias plataformas na internet vendem o disco, bem como disponibilizam as faixas para uma audiência. Divirtam-se.


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