sexta-feira, 10 de junho de 2022

Ao piano de João Donato

 Por Ronaldo Faria

 Tempo, ausência de ventar e vento.

Vida, premência premida a si.

Tempo, no que há meses se foi.

Vida, cataclismo e cismo.

Tempo, sem espera ou era.

Vida a verter secundária.

Tempo, vaticínio e declínio.

Vida no emaranhado do nada.

Tempo, anuência da ausência.

Vida de voltas e versos retos.

Tempo de limites em prestos.

Vida insípida e tortuosa.

Tempo, cadafalso sem volta.

Vida de notas em notas ao piano.

Tempo embriagado de si mesmo.

A esmo, ambos num só e em dois.

Senão, tempo e vida entremeados.

Ritmos tresloucados do fado.

Inférteis reversos do que se foi.

Beijos largados em um sem dois.

Madrugadas vazias e o logo depois.

Inexistente alegria à alegoria da manhã.

No silêncio, vida e tempo – travestidos de si.

Talvez um poema sujo e rasgado.

Um taciturno amante carrancudo.

A mulher de seios nus ao sol do mar.

A vastidão de um eterno luar.

A canseira de eira e beira, a se beirar.

Um tanto de areia e olvidar.

Ir e seguir, à vida e no tempo.

Seguir e voltar, ao tempo e a vida.

Um deixar para velas ainda singrar.

O barco que afundou sem aportar.

Âncora jogada às pedras de qualquer lugar.

O tempo a dormir, a vida a acordar.

Ao som de João Donato, morrer para despertar...

Zé Geraldo

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