segunda-feira, 23 de maio de 2022

Ao Pequeno Tempo

 Por Ronaldo Faria

 

Mais um pequeno tempo e um tempo maior irão cumprir seu caminho circulatório no universo sem verso ou reverso, escuro e retórico, rotineiro num acordar e dormir sem ter fim.

Mais algumas horas e começa tudo de novo, como um ovo sem saber se a galinha estava lá para pari-lo ou se o deixou entregue ao asfalto quente para, impertinente, fazê-lo nascer.

Mais semanas, meses, minutos, esperas, comédias e tragédias. Beijos e abraços, tiros e litros devassos e mortais, cores de tevê a brincarem na íris de quem vê a vida como eterna solidão.

Tempo, quieto ao relento a esperar uma meia-noite chegar, faça-se passar mais devagar neste planeta. Deixe o amante a divagar, a morte a voar, a Terra a pensar que és igual e diferente.

Passe um pente nos cabelos da natureza e escreva missivas de saudade inaudita às músicas que entoam em cada ventania sobre o mar, em cada cantiga sobeja sob o corpo a arfar.

Tempo pequeno, pequeno tempo, que no próximo ciclo lunar possas ter gosto de gengibre e cheirar a jasmim. E por favor: me chame de amigo quando eu descobrir que mentiu sobre ser sem fim...

“O sol então nos encontrará
Pela madrugada
Numa festa como num conto de fadas
Cor de jade e de marfim, nos invade
Amor sem fim, felicidade é uma coisa assim.”
(Jorge Mautner)

Zé Geraldo

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