quarta-feira, 27 de julho de 2022

João Bosco e seu filho num disco único

Por Edmilson Siqueira 

Já escrevi aqui sobre o grande João Bosco, um compositor e cantor que já marcou definitivamente seu nome na história da MPB e, provavelmente, escreverei outra vezes mais. Hoje, vou comentar um trabalho dele que é, sobretudo caseiro. E, nem por isso, obviamente, perde a qualidade que ele sempre colocou em toda sua obra.  


É caseiro porque as treze faixas do CD são de autoria de João Bosco e de seu filho, Francisco Bosco. Estou falando de "As Mil e Uma Aldeias", nome que também é da primeira faixa do disco. 


À época, João Bosco disse que se tratava de um disco muito pessoal. Seu filho, então com 21 anos, já tinha dois livros lançados e se lançou como letrista do pai. Disse ele, em uma entrevista à Folha, em 1997, ano do lançamento do disco que se tratava de sua "melhor performance literária", reconhecendo sentir uma certa insegurança em ocupar um lugar que já havia sido de gente como Aldir Blanc, com quem João Bosco não trabalhava há dez anos. 

O disco é uma viagem musical, como diz não só o título, mas também a primeira faixa, que fala em Madagascar, Ceará, Jequié, Nazaré, Cafarnaum, Jericó e Bagdá. A influência da cultura árabe, perceptível em toda obra (João é descendente de libaneses), não é negada, mas também não é preponderante: "É um disco de música brasileira. Meu trabalho não é étnico. São fusões, não sobreposições". E reafirma que o que ele mostra pode vir de outros lugares, mas está dentro do Brasil.     


Mas a música de João, de raízes brasileiras, sempre, é universal. Sem qualquer preconceito, João faz boleros, rocks, tangos e qualquer outro ritmo, tudo sempre de uma qualidade ímpar para encanto de seus milhões de fãs no Brasil e no exterior. 


Após "Mil e Um Aldeias", os temas vão desfilando como uma verdadeira viagem num balão que voasse pelo mundo. "Califado de Quimeras", "Convocação" (com um berimbau na seção rítmica), "Arpoadora" (de influência jobiniana), "Das Marés", "Cora, Minha Viola", "Enquanto Espero", "O Medo", "O Sacrifício", "Prisma Noir", "Me Leva", "Jazidas" e "Benguelô/Metamorfoses" compõem o painel que João e Francisco Bosco nos ofereceram há 25 anos e que continua atual e muito bom de ouvir.  


Mas se o disco é "familiar", não quer dizer que João Bosco entrou sozinho no estúdio. Ele se cercou de um ótimo time de músicos, como Nico Assunção (baixo), Ricardo Silveira (guitarra e violão de aço), Carlos Bala (bateria), Hugo Fattoruso (Teclados), Marçal e Robertinho Silva (percussão), André Gomes (cítara), Marcio Montarroyos (flugel horn, Ramiro Mussoto (berimbau e percussão) e Paulo Moura (clarineta).  

O resultado da união "familiar" e de tanta gente boa só podia ser ótimo.  


O CD está à venda nos bons sites do ramo e pode também ser ouvido na íntegra no YouTube em https://www.youtube.com/watch?v=tmZIACsKZRU&list=OLAK5uy_m1rlLOgOKCzj0rKauqiGucHn-cW5JRYKY . 

Zé Geraldo

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