quarta-feira, 1 de junho de 2022

Uma homenagem à preguiça

Por Edmilson Siqueira 

Quando eu me aposentei dos afazeres diários do jornalismo, depois de mais de 40 anos na profissão, alguns amigos me perguntaram o que eu ia fazer. Minha resposta foi outra pergunta: "Como assim?" Eles queriam saber se eu ia continuar trabalhando. Minha resposta então não foi interrogativa, foi afirmativa, ou melhor, negativa: "Não!".


Confesso que sempre fui meio preguiçoso, jamais gostei de acordar cedo, por exemplo. Claro que não recusei trabalho por preguiça, mas adorava os fins de semana e as emendas de feriados. Hoje, já não tenho esses prazeres, pois estou num feriadão há alguns anos e nele pretendo continuar. Como disse a um amigo recentemente, "não fiquei rico, mas está divertido não fazer nada, digamos, produtivo, ou quase nada". 


Bom, tudo isso me veio à mente ao sacar um disco da coleção para o artigo de hoje: "Jazz For A Lazy Day". A capa, como vocês podem ver aí, é bem sugestiva. Parece um passeio pelo campo, o encontro de um riacho numa tarde quente de verão. Já o conteúdo sugere que você se estique numa rede ou num sofá, pegue um bom vinho, um bom uísque ou até aquela cerveja gelada e faça as reverências todas que a preguiça merece.  


São nove grandes músicas tocadas por conjuntos de jazz dos quais os autores das músicas não participam. Ou seja, é uma outra visão de uma música escolhida pelo produtor justamente para acariciar um "lazy day". 



Thelonious Monk, o genial pianista, é o autor das duas primeiras faixas: "Blue Monk" e "Monk's Dream", otimamente interpretadas por Frank Jones (piano), Mickey Rober (bateria) e Sam Jones (baixo), a primeira, e Ralph Moore (sax tenor), Benny Green (piano), Peter Washington (baixo) e Victor Lewis (bateria), a segunda.  

"Chelsea Bridge" (Billy Strayhorn) leva a preguiça às alturas, no longo solo do sax tenor de Ricky Ford, acompanhado de John Ricks ao piano, Walter Book no baixo e Johnny Cobb na bateria. 


Sonny Still, também um sax tenor, se incumbe de comandar "Walkin" (A. Carpenter e J. Coates). Joe Newman no trompete, Duke Jordan no piano, Sam Jones no baixo e Ray Brooks na bateria completam o grupo. 


A quinta faixa é "Alone Together" (H. Dietz e A, Schwartz) cuja interpretação ficou com Wallace Roney e seu trompete em surdina, mais Donald Brown ao piano, Christian McBride no baixo, Cindy Blackman na bateria e Garry Thomas na flauta. 


Em seguida aparece "Blue Seven" do grande saxofonista Sonny Rollins, que ficou sob a responsabilidade de outros dois grandes no disco: Houston Person no sax tenor e Ron Carter no baixo. Uma aula de ritmo e precisão, banhada com o improviso dos grandes jazzistas. 


A sétima faixa já é um clássico do jazz: "Fly Me To The Moon", de B. Howard. Russel Gunn com seu trompete se sai muito bem, acompanhado de John Ricks ao piano, Peter Washington no baixo e Cecil Brooks III na bateria. Um show o improviso de Gunn.  

Outro clássico, "Daydream" de Duke Ellington, J. LaTouche e B. Strayhorn é a penúltima faixa do disco. Nela o sax tenor de Houston Person, o piano de Cedar Walton, o baixo de Buster Willians, a bateria de Vernel Fournier e o trombone de Curtir Fuller dão conta do recado com muita qualidade.
 

Por fim, encerrando o "lazy day", temos "Alter Ego" de J. Wiliians, com Donald Byrd no flugelhorn, Kenny Garret no sax alto, Mulgrew Miller no piano, Rufus Reid no baixo e Marvel "Smitty" Smith na bateria. 


Trata-se de um disco cujo maior objetivo é lhe dar o prazer de ouvi-lo sem pensar em fazer absolutamente nada. Uma homenagem a um dia preguiçoso de verão. Ou de outono. Talvez de inverno. Quem sabe da primavera. Pode ser qualquer estação. Eu, como Ph.D. em “lazy days”, falo de cátedra. 


O CD está à venda nas boas casas do ramo e pode ser ouvido na íntegra no YouTube em https://www.youtube.com/watch?v=kXjt8i9Lxvo . 

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