quarta-feira, 23 de março de 2022

Nat, um verdadeiro rei

Por Edmilson Siqueira 

Em 5 de novembro de 1956 estreava na televisão americana, mais precisamente na NBC, um programa musical, semanal, em horário nobre. Até aí, nada demais, pois todas as emissoras tinham programas musicais, alguns até em horários nobres.  


Só que este tinha algo diferente, além do enorme talento do seu astro principal e apresentador: ele era negro. Seu nome: Nat King Cole. 


A ousadia da rede teve um preço: o programa jamais conseguiu um patrocinador exclusivo e durou pouco mais de um ano. Foi encerrado por iniciativa do próprio Nat que não quis continuar sem o tal patrocinador nacional. 

Só que o sucesso do programa, se não conseguiu tanta audiência, foi exatamente de abrir as portas para muitos outros artistas que, embora tivessem talento de sobra, eram deixados de lado pela televisão por serem negros.  


E alguns desses talentos todos podem ser conferidos num DVD de pouco mais de uma hora, com o filé desses programas. O DVD se chama ""When I Fall in Love / The One And Only NAT KING COLE" e está à venda nos sites por um preço camarada.  


Só que o DVD não é apenas um desfilar de ótimos números musicais, com Nat dando o show de sempre na companhia de grandes nomes da música norte-americana. Ele traz também depoimentos exclusivos dos familiares de Nat - a esposa Maria, seu irmão mais novo e também músico Freddy Cole e suas três filhas, Natalie, Casey e Timolin - além de interessantes comentários de Bob Henry, diretor e produtor da série original.

 

Com isso, além do prazer de ouvir grandes músicas com excelentes interpretações, também vamos nos emocionar com a família falando do pai, do marido, do irmão que, além das qualidades artísticas (ele não era só um dos maiores cantores dos EUA, mas também grande pianista de jazz, que, aliás, foi como começou sua carreira artística) era um ser humano fantástico, alegre, honesto e sempre bem-humorado. 


Pelos artistas que estão no DVD fazendo grandes números ao lado de Nat, percebe-se que seu programa atraiu a nata musical norte-americana. Muitos viam nele a oportunidade de aparecer a um público bem maior e combater o racismo do qual eram vítimas.  


Na parte musical do DVD, depois de três números só com Nat, ele aparece cantando seu grande sucesso Sweet Lorraine ao lado de ninguém menos que Oscar Peterson Trio. Em seguida, para cantar Somewhere Along the Way, Nat tem a companhia do genial Sammy Davis Jr. The Mills Brothers, um conjunto vocal com quatro negros, canta, com Nat, Opus One.  

Um dos pontos altos do show é a presença de Ella Fitzgerald para cantar Too Close for Confort, num dueto sensacional. Mas a melhor surpresa fica por conta de num número no teclado a quatro mãos, com a música Blueberry Hill. Cantando junto com Nat, um garoto prodígio nos seus 12/13 anos: Billy Preston, que viria a ser um dos maiores pianistas do pop e do rock americano, participando, inclusive, da gravação dos últimos discos dos Beatles, em Londres, em 1969. A cópia colorizada dessa apresentação tem rodado as redes sociais por aí, com grande aceitação. 


Ao todo, são vinte números musicais completos, além dos depoimentos e várias fotos extras. Trata-se, sem dúvida, de um documento histórico, que não só homenageia um dos maiores cantores de todos os tempos, como mostra que Nat King Cole era uma pessoa extraordinária, que soube enfrentar o preconceito e o venceu com seu talento, seu carisma e sua bondade. 


Nat morreu cedo, aos 45 anos, em 1965. Os três maços de cigarros que fumava por dia causaram-lhe um câncer fatal.  

Zé Geraldo

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