terça-feira, 17 de janeiro de 2023

Estar mil em bem pior, ou será Belchior?

  Por Ronaldo Faria


Açucena floresce apesar da mazela. Crença na infausta cena prolifera entre a vida real e a fera escondida pela vida maior. Nunca mais volta! Na revolta do destino, o desatino. O imbróglio de uma rua paralela onde o cavalo, livre, não vê mais a sela e o chicote. Talvez um bar noturno entregue às saudades insípidas que borbulham nas bolhas que sobem no copo de cerveja do bar. Um cowboy a retornar, a mulher a retomar o amor, trilha na perfídia do seguir.
No cheiro esmerado e guardado, rasgado e posto em queima num incenso qualquer, rola quem sabe Woodstock ou Janis Joplin. Senão, a simples e simplória paixão de uma filosofia. Se o fim de tudo é a morte, essa inconsequente e quente efeméride sem bolas de inflar e bolos de chocolate recheados de glacê, que chegue logo, em encanto. Num canto de apartamento qualquer, o corpo caído e flácido, temático, se tornará andador do novo andor.
No copo que faz demorar o demérito da bebida quente, o frigir de óvulos quando bate nos dentes da arcada debaixo. A reverenciar o passado, o escândalo da insurgente gente que nos recantos sem encantos se tornam tragédias, comédias e cantos. Talvez esmeris que troca poesia por sílabas e forja inodoras lembranças nas tranças da amada, ou nada. Menos de duas horas e já se fez história. E a despedida, catatônica, atônita cambaleante reverbera.
No campo tem uma flor que se chama gérbera. E sei lá se brota rápido ou se desconexa do sol da primavera. Pra mim, tanto faz ou tanto fez. No Canal de Suez, a morte briga para ter paz como tem a cana que morre no bagaço do engenho prenhe. Daqui, a limpar o teclado do fado que as gotas da embriaguez dão, vejo como a vida é foda. Entre a horda que busca a horta para curar a larica advinda, a cerveja voa para fora do copo. Insana e eólica tragédia.
No último beijo imperfeito, a mulher diz que é difícil voltar à realidade. Na cidade urbana e doidivanas, a trama de querer sobreviver amiúde. Embriagado, travado, cravado, gravado e postergado de si mesmo, o homem viaja nas loucuras que a brandura do anoitecer faz e fez. E volta às amargas saudades e lembranças. Em suas andanças febris e poéticas, lembra as amantes e infinitas pessoas. No fim, entoa a tragicomédia que a Cinédia não quis filmar.
 
Possamos nos permitir ir e vir de nossas loucuras e, talvez, quem sabe, ressurgir no dia seguinte, mesmo com a ressaca precípua e dores loucas numa cabeça tresloucada, voz rouca, na noite pouca. O caminhar fará sua parte, no aporte de seguir uma linha que vamos sempre transgredir

Emílio Santiago: de repente, um grande sucesso

Por Edmilson Siqueira 

Emílio Santiago foi, sem dúvida, um dos melhores cantores que o Brasil já conheceu. Sua voz segura, afinadíssima e a presença marcante fizeram desse carioca nascido em 1946, um grande vendedor de discos e um criador de vários sucessos e, além de levar novamente às paradas ótimas regravações de músicas mais antigas. 


Mas nem sempre foi assim. Contratado pela Phillips-Polygram em 1975, depois de gravar um LP pela CID, ficou por lá durante dez anos, lançando um LP por ano e vendendo, no máximo, 10 mil cópias, um número bem baixo para o tamanho do Brasil.  


Seu produtor à época era Roberto Menescal que, segundo depoimento dado ao programa Starling Cast, jamais conseguiu que Emílio gravasse um disco do jeito que ele pensava ser melhor. "Meu público não aceita esse tipo de música", dizia Emílio a Menescal. 


Por volta de 1985, Menescal saiu da Polygram e, logo em seguida, o contrato de Emílio não foi renovado. "Eu que o segurava por lá", disse Menescal ao programa.  

Roberto Menescal era um produtor de sucesso e só saiu da Polygram para se associar a um amigo e criar uma produtora própria. E o primeiro cantor que procuraram para um novo projeto foi justamente Emílio Santiago. Por quê? Menescal disse que foi um guru que lhe soprou que, não havendo nada de novo já perto do fim do século, ele teria de apostar em algo já existente para fazer sucesso.  


Emílio hesitou a princípio abraçar o projeto de Menescal e seu sócio, dizendo que não era seu estilo e que seu público não iria gostar. O sócio, segundo Menescal, foi mais incisivo: "Que público, Emílio? Aquela meia dúzia de pessoas eu vi ontem na plateia?" Diante da realidade, Emílio pediu para pensar. Menescal aproveitou: "Você tem até amanhã para decidir. É pegar ou largar!" 


Acho que os deuses da música interferiram na cabeça de Emílio naquela noite e, no dia seguinte, ele topou. 

O disco foi gravado num estúdio particular e foi oferecido a três gravadoras. Só que nenhuma quis aceitar, até que a Som Livre disse, segundo Menescal: "Se ninguém aceitar, eu aceito, mas eu não quero o artista, só o disco. O artista fica pra você." Menescal estranhou, mas fez um contrato com Emílio para aquele disco e assim a Som Livre promoveu e distribuiu o trabalho.  

Resultado: o disco do projeto que recebeu o nome de Aquarela Brasileira foi um sucesso e vendeu 850 mil cópias. E o projeto que era pra ser de um disco só, virou mais seis, vendendo perto de 6 milhões de cópias. 


"A ideia era simples: regravar músicas que foram sucesso, sem solo praticamente, é um show em que o cara canta o tempo todo", revelou Menescal no programa.  E disse ainda que Emílio, que "dormia num sofá-cama", um ano depois estava morando numa cobertura duplex em Copacabana e ficou milionário, tantos foram os discos vendidos e os shows que fez pelo Brasil afora. Depois dos sete Aquarela Brasileira, Emílio ainda gravou mais treze LPs, até 2011.

 

No dia 7 de março de 2013, Emílio deu entrada no Hospital Samaritano, em Botafogo, onde ficou internado na UTI após sofrer um acidente vascular cerebral. Ele morreu às 6h30 da manhã do dia 20 de março de 2013, aos 66 anos, por complicações no quadro clínico de AVC isquêmico, na falta de circulação sanguínea no cérebro. 


Muitos dos discos de Emílio Santiago estão disponíveis tanto para compra, nos bons sites do ramo, como para ouvir no YouTube e outras plataformas de música. 



Zé Geraldo

 Por Ronaldo Faria A viola viola o sonho do sonhador como se fosse certo invadir os dias da dádiva que devia alegria para a orgia primeira...