terça-feira, 2 de agosto de 2022

Person and Carter

Por Edmilson Siqueira 


Acho que foi na antiga loja do Osny, a Hully Gully Discos, que ficava ali na Dr. Quirino, que eu encontrei o CD duplo de Houston Person e Ron Carter, juntos, tocando o que gostam e do jeito que gostam em duas sessões, uma em fevereiro de 1989 e outra em janeiro de 1990, ambas no Van Gelder Recording Studio, em New Jersey. Foram lançados, à época, separados, mas alguém teve a feliz ideia de juntá-los num único estojo.  

O primeiro CD se chama “Something in Common”, o segundo “Now´s the Time” e a caixinha com os dois levou o nome de “The Complete Muse Sessions”, talvez fazendo um trocadilho sonoro entre musa e música (muse/music). Mas, com ou sem trocadilho, tudo se encaixaria: é música pura e das mais inspiradas. Tão inspirada que o crítico Joel Dorn escreveu sobre o trabalho: “Não é música cerebral, é um sentimento musical”.  

Ele começa com “Blue Seven” (Rollins), e é só uma demonstração, de mais de seis minutos, do incrível conjunto formado pelos dois instrumentos ao longo dos dois CDs. E a marca registrada que se seguirá é explicitada: haverá solos em todas as músicas, haverá acompanhamentos ora de um ora de outro, haverá, principalmente, liberdade de criação e rigoroso entendimento. E tudo se traduzirá numa das mais perfeitas harmonias que dois músicos podem conseguir num estúdio.


“I Thought About You” (Heusen/Mercier) prossegue o caminho aberto na primeira música, preparando um swing que virá em seguida com a clássica “Mack The Knife” (Blitzstein/Weill/Brecht) música feita para teatro, mas que acabou ganhando o mundo pela singeleza da linha melódica e possibilidades jazzísticas. “Joy Springs” (Brown), “Good Morning Heartache” (Fisher/Higgenbotham/Drake) imortalizada na voz de Billie Holiday, “Anthropology” (dos gênios Charlie Parker e Dizzie Gillespie), “Once In A While” (Edward/Green) e “Blues For Two”, de autoria dos dois, fecham o primeiro CD. 


Nessa altura do campeonato, se o seu copo de uísque está vazio, pega mais gelo, bota outra dose e se prepara para o que virá: mais uns 50 minutos daquele prazer que só a música pode proporcionar.  


“Bemsha Swing” (Monk/Best) e “Spring Can Really Hang You Up The Most” (Landesman/Wolf) abrem o segundo disco e o clima não perde nada daquela atmosfera mágica que se formou desde o início. “Einbahnstrasse” (Ron Carter) prepara o ambiente para a entrada de “Memories Of You” (Blake/Razaf) que, por sua vez, deixa o tempo perfeito para uma obra prima brasileira que, no contrabaixo e no sax dos dois, nos traz novos prazeres: “Quiet Nights”, de mister Antonio Carlos Jobim é tocada por deliciosos seis minutos e quarenta e cinco segundos e quando termina é duro resistir à tentação de apertar o botão do replay. “If You Could See Me Now” (Damerson/Sigman), “Now Is The Time” (Parker), “Since I Fell For You” (Johnson) e “Little Waltz” (Ron Carter) completam essa aula de sensibilidade e sentimento.  


O CD duplo foi lançado em 1997 e o que tenho é importado. Não encontrei produção brasileira, mas o importado ainda está à venda por aí. Se você gosta de jazz, mesmo que seja só um pouco e deparar com ele pela frente, não hesite: serão quase duas horas de puro prazer. 

Zé Geraldo

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