Por Ronaldo Faria
Passa passarinho perneta de perna e asa quebradas. Vai avoar para lá. Seguir seu céu cheio de nuvens anuviadas e cheias de chuva sem cair. No meio da estrada, cheia de poeira e de pó, o barro se enlameia de lágrimas secas e olhos vermelhos de tramas e tranças entrelaçados no corpo magro que definha largo à beira da única e uníssona vida.
Passa feito padre com suas
rezas escritas ao léu e surdas feito o sabor do fel. Vai rezar para longe, com
suas cantigas e cânticos que não transpassam dos pórticos. Na lonjura do
desterro, de onde nem o olhar mais perto pode ver, há querência e ser. Catatônico,
afônico, histriônico na imensidão do copo vazio de tanto se entornar de
solidão.
Passa silencioso cantador da
dor eterna e leva sua ternura à candura das brumas que não encontram barco
sequer para balançar. Na saudade leviana e mundana, jogada às capistranas de
capitanias há muito hereditárias entre as razões e o sonhar, volta à sua terra
de carne e osso, de onde saístes criança e agora volta feito moço.
Passa à parcimônia antagônica
da mulher que gira feito pomba e regira no mundo afora. A desgarrar de um sertão como
veia aviltada de sangue que se larga ao coração. No limite entre o amanhecer e entardecer
que não se vê. Feito alma desalmada que ama a eternidade e dorme quieta e
discreta num canto qualquer sem ser.
Passa passarinho, caolha e sem
bico, sem pena e voar, no alto da mansidão que anuvia a poesia do cantar. Fica
calado no fio de arame a balançar sem eternidade ou lugar. No descalabro
sincero que existe entre o novo e o velho. Pare nos moinhos de vento, suba e
desça de acordo com o desejo da brisa que de tanto bater ainda há de furar.