terça-feira, 1 de novembro de 2022

Zé Renato e Renato Braz

 Por Ronaldo Faria

Passa passarinho perneta de perna e asa quebradas. Vai avoar para lá. Seguir seu céu cheio de nuvens anuviadas e cheias de chuva sem cair. No meio da estrada, cheia de poeira e de pó, o barro se enlameia de lágrimas secas e olhos vermelhos de tramas e tranças entrelaçados no corpo magro que definha largo à beira da única e uníssona vida.

Passa feito padre com suas rezas escritas ao léu e surdas feito o sabor do fel. Vai rezar para longe, com suas cantigas e cânticos que não transpassam dos pórticos. Na lonjura do desterro, de onde nem o olhar mais perto pode ver, há querência e ser. Catatônico, afônico, histriônico na imensidão do copo vazio de tanto se entornar de solidão.

Passa silencioso cantador da dor eterna e leva sua ternura à candura das brumas que não encontram barco sequer para balançar. Na saudade leviana e mundana, jogada às capistranas de capitanias há muito hereditárias entre as razões e o sonhar, volta à sua terra de carne e osso, de onde saístes criança e agora volta feito moço.

Passa à parcimônia antagônica da mulher que gira feito pomba e regira no mundo afora. A desgarrar de um sertão como veia aviltada de sangue que se larga ao coração. No limite entre o amanhecer e entardecer que não se vê. Feito alma desalmada que ama a eternidade e dorme quieta e discreta num canto qualquer sem ser.

Passa passarinho, caolha e sem bico, sem pena e voar, no alto da mansidão que anuvia a poesia do cantar. Fica calado no fio de arame a balançar sem eternidade ou lugar. No descalabro sincero que existe entre o novo e o velho. Pare nos moinhos de vento, suba e desça de acordo com o desejo da brisa que de tanto bater ainda há de furar.
 
(Ao som de Zé Renato e Renato Braz)

Zé Geraldo

 Por Ronaldo Faria A viola viola o sonho do sonhador como se fosse certo invadir os dias da dádiva que devia alegria para a orgia primeira...