terça-feira, 29 de março de 2022

Um intérprete chamado Paulinho da Viola

Por Edmilson Siqueira 

Paulinho da Viola, como todo mundo que gosta de boa música sabe, é um desses gênios do samba, cujas músicas já se eternizaram na memória brasileira e, daqui a cem anos, continuarão sendo ouvidas e gravadas. Seus maiores sucessos são de músicas que ele compôs sozinho como Foi um Rio que Passou em Minha Vida, Pecado Capital, Rumo dos Ventos, Meu Violão, Jurar com Lágrimas, Sinal Fechado ou Bêbado Samba, entre muitos outros. 


Mas Paulinho é, além de um grande cavaquinhista, também um grande intérprete. Em todos os seus discos, ele canta músicas que fez em parcerias ou músicas de outros autores, como Sei Lá Mangueira (música que ele colocou em versos da Hermínio Belo de Carvalho) Mas Quem Disse que Eu te Esqueço (Ivone Lara e Hermínio Belo de Carvalho), A Maldade Não Tem Fim (Armando Santos), Ame (com Elton Medeiros), Alento (Paulo Cesar Pinheiro), O Ideal É Competir (Candeia e Cascatinha) e dezenas de outros.  


Pois é esse lado de intérprete que vou comentar aqui, já que Paulinho juntou num só disco composições de outros autores que ele gravou e que recebeu o nome justamente de "Paulinho da Viola - Intérprete".  


O CD que tenho é de ótima produção com uma bela foto na capa. E, na contracapa, Paulinho está sendo numa cadeira de balanço, imitando uma famosa foto do grande Pixinguinha. Um encarte com todas as letras e a ficha técnica, também bem cuidado, completam o trabalho. 


As gravações abrangem um período que vai de 1968 a 1973. Paulinho, como se sabe, sempre foi ligado a grandes sambistas, conhecidos ou não do grande público e sua generosidade levou a gravar alguns grandes sucessos desses amigos, fossem eles de que escola de samba fossem, mesmo que seja ele um portelense raiz.  


E essa amizade até lhe causou problemas. O lindo samba Sei Lá Mangueira, que Elizeth Cardoso eternizou, é uma parceria sua com Hermínio Belo de Carvalho. Pois seus amigos da Portela entortaram o nariz ao ver um dileto portelense louvar as belezas da escola rival. Pois Paulinho, para mostrar que seu amor pela azul e branco continuava incólume, escreveu Foi Um Rio que Passou na Minha Vida, voltando aos braços e abraços de sua escola. O samba é, talvez, seu maior sucesso. 


O disco com Paulinho só de intérprete é uma dessas joias que devem ser ouvidas sempre. Algumas das músicas se transformaram em sucessos do rádio na época em que foram lançadas, outras têm ótimas melodias e letras. Todas com arranjos bem-feitos e a sempre correta e agradável interpretação de Paulinho. 

As gravações são as originais e é muito bom ter em mãos essa coleção de bons e ótimos sambas que Paulinho eternizou.  


A seleção é das mais primorosas e, assim mesmo ouso dizer que muitas que mereciam estar na seleção ficaram de fora. Simplesmente as que foram gravadas depois de 73, de outros autores, já dariam pra fazer outro disco. 


Logo de cara, somos brindados com Nervos de Aço, a música que Lupicínio Rodrigues escreveu em 1947, quando encontrou seu grande amor - Iná, de quem fora noivo - casada com outro.  


Acontece, de Cartola, a segunda faixa do disco, teve em Paulinho a primeira gravação, em 1972. É um daqueles sambas emblemáticos de Cartola: linda melodia, letra perfeita. E, claro, grande interpretação de Paulinho. 


Mente ao Meu Coração (Francisco Malfitano e Pandia Pires) vem a seguir, seguida de Nega Luiz (Wilson Batista e Jorge de Castro), Mal de Amor (Raul Sampaio e Benil Santos), Duas Horas da Manhã (Nelson Cavaquinho e Ary Monteiro), Nova Ilusão (Paulo Caetano e Claudionor Cruz), Não Quero Mais Amara a Ninguém (Zé da Zilda, Cartola e Carlos Cachaça), Pra que Mentir (Noel Rosa e Vadico), Lenço (Monarco e Francisco Santana), Sentimentos (Miginha) e Doce Veneno (Valzinho, Carlos Lentine e M. Goulart). 

Como se vê trata-se de um repertório da mais alta qualidade, com boa parte da nata do samba brasileiro misturada a compositores que, se não tiveram sucessos perenes, escreveram pelo menos algumas grandes obras que Paulinho teve a sensibilidade de gravar. 

O disco inteiro pode ser ouvido neste endereço: https://www.ouvirmusica.com.br/paulinho-da-viola/710291/#album:interprete-2005 . E, claro, ainda está à venda nos bons sites do ramo. 

Zé Geraldo

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