sábado, 5 de novembro de 2022

Bossanoveando

 Por Ronaldo Faria

Bossa Nova a tocar no piano virtual. Entre a realidade e o desejo, um sinal. Uma praia distante, sangrada de mares imaginários e verdes matas madrigais e infinitas, fatais. Morros diversos que perfazem o sol que cai detrás deles em poemas e versos, todos solares e prestos. E tem a morena a andar pela areia quente cheia de pedaços de suores e cheiros dos amantes do fim do dia. Lá longe, defronte entre o nada e a mentira, tem uma tira de tragédia antecipada, nuvem dissipada, carreira cheirada pelo louco que dorme solitário e derradeiro.

No mais, um entardecer obscuro e soturno, um cálido desaguar de olhares às coxas das moças, um esquálido propor de amor e dor. Casais a se acasalarem nos corpos frágeis e ágeis que correm pela calçada da zona que virou o sul. E se azucrinou de porres voláteis e perdidos entre dedos e medos que percorrem lugares escondidos entre biquínis mínimos e mimos que o bronze do sol derrete em dias que dão no que der. No beijo entre línguas, o cabelo negro do rosto branco da mulher. A cena, pano final do ato derradeiro qualquer.

No alto do morro, de dois irmãos, uma bananeira se joga ao céu de pedra e perdão. Uma luz aqui e outra lá se acende à chegada do escuro que esconde as ondas abaixo para o fim do mar. No tudo, em turbilhão e canção, fica o barulho do que quebra quieto e se deita entre as rochas e o oceano cadente e profano. Ao fim do horizonte, o desmonte. No quadro que se enquadra aos olhos, a volta de barcos e navegantes cheios de marejar e vagas espumas que esbranquiçam a pintura que se emoldura à gasta rotunda que volteia brilhos e trilhos nunca alcançados.

No mar, no fundo mais fundo e profundo que se faz ou fará, o desejo do amor se desfaz fugaz. Meras palavras ao vento mormo que bate a noroeste. O começo de uma epidemia que vem sem peste. Que se veste de peles entrecortas de desejos e recortadas de delírios que febre nenhuma faz secar. Como féretro regado a berimbau e segredos, degredos, ensejos e seixos. Ladeiras serpenteadas de paralelepípedos, subidas e descidas. Canções acrescidas de formicidas e sinais que nem o maior dos arqueólogos saberá decifrar à desmedida sina...
 
(Ao som da Cia. Estadual de Jazz)


Zé Geraldo

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