sexta-feira, 25 de março de 2022

O internacional Sergio Mendes

Por Edmilson Siqueira

Sergio Mendes é um desses artistas brasileiros que, a partir de sua ida definitiva para os EUA, se tornou universal. Fez sucesso em várias partes do mundo e, principalmente, nos EUA, mais do que outros ícones da MPB. Isso porque ele soube fazer mixagem perfeita entre a música brasileira e o pop e jazz norte-americano. Pianista dos bons, já tinha passado pelos EUA, mas de volta ao Brasil, no início dos anos 1960 produziu ótimos discos. Um deles, comandando o Bossa Rio, é antológico: Você ainda não ouviu nada! é o ousado título (ousado para 1964). Nele, Sérgio Mendes juntou Tião Neto, Edison Machado, Raul de Souza, Edson Maciel, Hector Costita e Aurino Ferreira. E nos arranjos, além do próprio Sergio Mendes, estão nada mesmo que Moacir Santos e Antonio Carlos Jobim. 


Aliás, é Jobim o autor de um dos textos que acompanha o LP original. No trecho final, escreveu nosso maestro soberano, sobre Sergio e sobre o disco que ele ajudou a fazer: “Além de ser um intuitivo é um estudioso. Coisa rara, pois, geralmente, os intuitivos ficam só intuitivos e os estudiosos seguem estudiosos. Agora tive oi prazer (e o sofrimento) de colaborar com ele neste disco. E foram mil noites sem dormir e café e cigarros. Depois eu ia levar Serginho até a Praça XV. Comprávamos os jornais do dia enquanto vinha chegando a barca que o levaria de volta à sua Niterói. Não sou profeta, mas creio que este disco, produto de muito trabalho e amor, abra novos caminhos no panorama da nossa música”. E abriu mesmo.  


Mas esse disco fica para um próximo artigo. Hoje, vou falar sobre outro, mais recente, de 2006, quando Sergio Mendes tinha 65 anos (tem 81 hoje), onde ele junta a bossa nova, a boa MPB com o pop-rock, o hip rock e o jazz, num caldeirão que só o bom gosto e o talento de Sergio Mendes poderiam transformar num som agradável e num excelente disco. 


O título é Timeless. E nomes como The Black Eyed Peas, Eryka Badu, Q-Tip, will.i.an, Jill Scott, Mr. Vegas, John Legend, Pharoahe Monch, Justin Timberlake, Chai 2na, Debi Nova e Black Thought estão todos lá, mostrando versões próprias de antigos sambas e bossa novas, dando uma nova (e boa!) roupagem a sucessos que conhecemos e amamos. 


Mas, além desses nomes todos, que podem soar estranhos ao amante da MPB, temos também Gracinha Leoporace (mulher de Sergio) cantando maravilhosamente Berimbau e Consolação, com a participação ainda de ninguém menos que Steve Wonder. E na faixa Fo'Hop (se você leu Forró, é isso mesmo...), a presença do autor, nosso grande Guinga. E a música é um forró mesmo, delicioso por sinal.  


Depois desse disco, Sergio Mendes gravou mais cinco e, aos 81 anos, continua fazendo planos de novas apresentações e gravações, pois continua sendo um artista requisitado em várias partes do mundo. 

Timeless é um disco que, de certa forma, marca uma fase importante na música de Sergio Mendes, através dessa aliança com a música norte-americana dos guetos que estourou no mundo inteiro. Mas é, principalmente, um excelente disco pra se ouvir a qualquer hora. Afinal, Sergio Mendes tem provado, ao longo de mais de 50 anos, que tudo que faz tem qualidade, bom gosto e muito talento.  

O álbum completo pode ser ouvido no YouTube, inclusive com um clip da primeira música, nesse endereço: https://www.youtube.com/playlist?list=OLAK5uy_nTcu86Mttj2FbnyvtT8VZR0NLvS7IkqkI 

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