sexta-feira, 1 de julho de 2022

Quando Diana Krall chegou à bossa nova

Por Edmilson Siqueira 

Quando Diane Krall surgiu no cenário musical eu fiquei meio encantado. Uma voz muito bonita, uma ótima pianista cantando jazz, um disco bem produzido e, como se não bastasse, ela própria muito bonita. Escrevi sobre ela na coluna que mantinha na revista Metrópole do Correio Popular e passei a comprar seus CDs assim que por aqui aportavam. Um dia, acho que escrevendo uma segunda vez sobre um disco dela, brinquei na coluna que ela havia me mandado um e-mail. Expliquei, claro, que eu havia entrado para uma espécie de fã clube da moça e, como tal, recebia e-mail dos shows e lançamentos. E nos e-mails imprimiam a assinatura da moça. 


Passou um tempo e eu comecei a sentir falta da bossa nova no repertório de La Krall, como eu a havia apelidado. Não demorou muito e fiquei sabendo que ela estava gravando um CD que se chamaria Quite Nights que é, nada menos, que o nome da versão em inglês da música Corcovado, do nosso maestro soberano. Melhor: Diana ia gravar um DVD no Rio de Janeiro com as músicas do CD. 


Pois o disco saiu pela gravadora Verve, em 2009. É um dos melhores da moça que se rende, aqui, definitivamente à batida da bossa nova, não só nas músicas brasileiras, mas também adaptando outras ao sotaque musical carioca dos  anos 1960. Produzido por ela e por Tommy LiPuma e com uma grande orquestra conduzida por Claus Ogerman que também é o responsável pelos arranjos. 

Com esse time, já acostumado à bossa nova, Diana se mostra à vontade para cantar "Where or When", de Richard Rodgers e Lorenz Hart, "Too Marvelous for Words", de Richard Whiting e Johnny Mercer, "I've Grown Accustomed to his Face", de Ferderick Loewe e Alan Jey Lerner antes de cantar a versão em inglês de "Garota de Ipanema" que no disco virou "The Boy From Ipanema" e teve Paulinho da Costa na percussão para que nada saísse da medida.  


"Walk On By", de Burt Bacharach e Hal David, já vem contaminada pelo estilo manso e caliente que Diana sabe tão bem fazer, mantido em "You're My Thrill" de Jay Gorney e Sidney Clare.  


Jobim volta ao palco com "Esse Seu Olhar", sem versão em inglês. Sim, Diana se arrisca e canta em português e, claro, até erra uma ou outra palavra, mas o resultado é de alto nível. Já na música seguinte, ela está à vontade com o standard de Marcos e Paulo Sergio Valle - "So Nice" presença obrigatória num disco que se queira cantar a bossa nova. Só que aqui ela mostra suas habilidades ao piano antes de iniciar a letra em inglês do "Samba de Verão". 


Com todo o ambiente preparado, eis que chega a música título do disco. "Quite Nights" tem abertura de grande orquestra para a entrada da voz de Diana quase sussurrando no início para se encorpar em seguida, mantendo o clima adequado para o sucesso mundial de Jobim que ganhou letra em inglês de Genne Less e Buddy Key.  


Em seguida, chegamos à décima faixa, "Guess I'LL Hang My Tears Out To Dry", de Jule Styne e Sammy Cahn, uma canção densa com um belo arranjo orquestral.  

Sem qualquer referência no encarte do CD, há ainda mais duas faixas no disco: "How Can You Mend A Broken Heart", o sucesso dos Bee Gees escrito pelos irmãos Barry e Robim Gibb e "Every Time We Say Good Bye", de Cole Porter. Há ainda uma gravação que dizem pertencer ao disco, de "For No One", de Lennon e MacCartney e que pode ser ouvida, junto com todas as outras faixas no YouTube:  https://www.youtube.com/watch?v=lRu4LNfahgQ&list=PL2CceBAKApJbLj8UcUrBTBnhy6nmdnWcM&index=13 . E, claro, o CD e o belo DVD grtavado no Rio, estão à venda nos bons sites do ramo. 


É um disco que deixa, mais uma vez, orgulhoso o brasileiro que gosta da bossa nova como eu e que mostra que os grandes intérpretes de jazz continuam atento àquela que foi a mais internacional das produções musicais brasileiras. 

Zé Geraldo

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