sábado, 28 de maio de 2022

Dick e Claudette: a melhor música

Por Edmilson Siqueira 

Um disco lançado há 46 anos, apenas com músicas românticas interpretadas por um casal de cantores já com vasta experiência à época poderia ser ouvido hoje sem que o ouvinte de bom gosto encontrasse qualquer defeito e o classificasse como um trabalho sensacional? Em se tratando de Dick Farney e Claudette Soares, a resposta à longa pergunta inicial é um sonoro "sim!"  


Isso porque não eram apenas dois cantores que cantavam afinados. Eram dois grandes intérpretes da música em geral, particularmente da romântica, do samba canção e da bossa nova, movimentos pelos quais eles passaram incólumes e respeitados por todos.  

O disco que estou ouvindo se chama "Tudo Isso É Amor" e Dick e Claudette passeiam pelas faixas como se estivem andando na praia de Copacabana de mãos dadas ao cair da tarde. 

Dick Farney tem uma belíssima história na música brasileira. Aprendeu piano clássico com o pai, mas foi fisgado pelo jazz e nunca mais largou a isca. 

Um artigo biográfico escrito por Pedro Paulo Malta e publicado no site Discografia Brasileira do Instituto Moreira Salles revela o início da carreira artística de um gênio da nossa música: "Foi menino prodígio enquanto seguiu o script familiar: aos treze, levou o “Prelúdio nº 7” (Chopin) à Rádio Guanabara; aos 15, encarou a “Dança ritual do fogo” (Manuel de Falla) na Mayrink Veiga. Quando caiu no jazz, nem o pai conseguiu segurá-lo: segundo o escritor e jornalista Ruy Castro (“Coleção Folha 50 anos de bossa nova, vol. 2”, 2008), o próprio Eduardo teria participado da criação do nome artístico que ficou no lugar de Farnésio Dutra e Silva – nome que o filho recebeu ao nascer, em 14 de novembro de 1921. "Assim nasceu Dick Farney, nome inspirado em Dick Haymes, crooner norte-americano nascido em Buenos Aires que substituiu Sinatra na orquestra de Tommy Dorsey”, conta o crítico e produtor Zuza Homem de Mello no livro “Copacabana: a trajetória do samba-canção” (Editora 34, 2018), destacando o acerto do jovem músico, ao ter seguido “a praxe de adotar um nome artístico sonoro e fácil de memorizar, tão normal no meio dos cantores e atores norte-americanos.” 


Claudette Soares começou sua carreira artística ainda menina, pois foi revelada no programa "A Raia Miúda”, de Renato Murce, na Rádio Nacional. Apresentou-se depois no programa "Clube do Guri”, de Silveira Lima, na Rádio Mauá. Depois no programa "Papel Carbono”, também de Renato Murce. E no programa "Salve o Baião”, de Luiz Gonzaga, que a apelidou de "Princesinha do Baião”. 

Mas foi na década de 1950 que Claudette despontou, ao ser chamada por Silvinha Telles para a substituir na Boate Plaza. Depois esteve no palco com figuras de nome, como Baden Powell, Milton Banana, João Donato, Luiz Eça. Participou na TV Excelsior do programa "Brasil 60″, de Bibi Ferreira, em São Paulo. Cantou nas casas noturnas "Baiuca”, "João Sebastião Bar”, "Cambridge”, "Ela, Cravo e Canela” (com o pianista Pedrinho Mattar) e muito mais.  

O disco com Dick foi uma decorrência normal da amizade entre os dois e da afinidade de repertório. Aliás, foram gravados dois volumes. O que estou ouvindo hoje é o primeiro.  


Acompanhados por excelente orquestra, Dick e Claudette esbanjam categoria numa excelente deleção: "O Que É Amar" (Johnny Alf), "Minha Namorada" (Carlos Lyra e Vinicius), "Esse Seu Olhar" (Tom Jobim), "De Você Eu Gosto" (Tom Jobim e Aloysio de Oliveira), "É Preciso Dizer Adeus" (Jobim e Vinicius), "Castigo" (Dolores Duran), "Tudo Isso É Amor" (Laura Maria), "Fotografia" (Tom Jobim), "Tenderly" (Jack Lawrence e Walter Gross), "O Nosso Olhar" (Sérgio Ricardo) e "Somos Dois" (Armando Cavalcanti, Klecius Caldas e Luiz Antonio).  

O CD pode ser comprado nos bons sites do ramo pode ser ouvido na íntegra em https://immub.org/album/tudo-isto-e-amor-dick-farney-e-claudette-soares .

Zé Geraldo

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