domingo, 4 de fevereiro de 2024

Na noite com Bochecha

 Por Ronaldo Faria


Na comunidade, a sagacidade que não brota da cidade faz Jonathan, DJ do pedaço, dar um beijo em Jennifer, a menina mais linda do lugar. Num largar de têmporas e tempos inauditos, o desatino de um amor que a vida diz que deve ser só love. Na longitude que existe entre o nascer e o morrer de uma existência única e prematura, dessas que se atura por ter que ser, os dois se jogavam na ternura que a imaginação dá amiúde. Entre um e outro encontrar de pélvis e vida, se largavam em largas histórias de um mundo diferente. Na efeméride que a eternidade não dá, o barulho que explode no ouvido e vira gemido logo depois é o palco sentido. No após do que tiver de ser, a imensidão que a sofreguidão permeia entre a calcinha no chão e a meia descalça na sina. Nalgum lugar, no todo que as cinzas futuras trarão, há a clarividência de quem sabe que o universo está disperso no segundo próximo. Do palco, o cantor diz que o duplo sentido mora na favela. Nos brincos que se lambe na chupada do ouvido, a verdade intrínseca e seca da vida.
Quem logo abaixo, no asfalto, visse os dois não saberia o que dizer ou falar. Afinal, o amor não tem fórmula ou forma precisas. É apenas um apêndice sem nexo ou lugar. De repente, chega feito um clima que surge na urbe, essa coisa defeituosa e gostosa, harmoniosa na laje ou a descer no chão. Pra manter a rima vale falar de popozão? Jonathan e Jennifer não estavam nem aí. Para eles bastava a escuridão do salão. Entre um amasso e outro, no gasto do fato que virá fátuo, iam ao universo que nem o melhor verso traduz ou a retórica dá. O desejo e o amor em flor têm apenas um sentido, uniforme e volátil. Na clarividência que mil goles dão, os dois se transbordam de volúpia e sofreguidão. Lá embaixo, na loucura que o asfalto traz e dá, iguais gostariam de viver uma realidade de se tocar em si. Logo acima, no céu repleto de estrelas, a ilusão sobressai feito centelha. Certamente, naquilo que a mente ainda consegue fazer brilhar, o beijo dos dois se esvai. No mundo que parece um istmo de poucos abrolhos, os olhos de quem lê não sabe o sentido da enorme imensidão.

Zé Geraldo

 Por Ronaldo Faria A viola viola o sonho do sonhador como se fosse certo invadir os dias da dádiva que devia alegria para a orgia primeira...