segunda-feira, 26 de dezembro de 2022

O grande e eterno Paulinho da Viola

Por Edmilson Siqueira 

Há cerca de um mês e meio - em 12 de novembro - Paulinho da Viola completou 80 anos. E se você não acompanhou direito essa incrível carreira de um dos maiores sambistas do Brasil, há uma boa chance de conhecer uma ótima produção que juntou, num só CD, dois discos dele, gravados em 1982 e 83, sob o título "Dois É Demais". A seleção, lançada em 1996, é uma prova de que Paulinho, que explodiu com "Foi Um Rio Que Passou Em Minha Vida", em 1970, no seu segundo disco de estúdio, continuou com uma sólida careira fazendo o que sabe fazer melhor: sambas e choros, intercalados por alguns sucessos que foram aproveitados em trilhas de novelas famosas da Globo.  

 

Paulinho é uma espécie de unanimidade da crítica brasileira e, entre os fãs da boa MPB, não deve existir quem dele tenha alguma crítica negativa. Sambista da mais pura estirpe carioca, Paulinho é autor de músicas memoráveis, além de um grande preservador da memória do samba e das escolas, pois já gravou muita coisa com a Velha Guarda da Portela, do mesmo modo que louvou sambistas vivos e mortos em seus sambas de roda e outros. Enfim, Paulinho é desses eternos que sempre estará presente em qualquer lista que se faça dos melhores do Brasil de todos os tempos.  

E esse disco, com as músicas de "A Toda Hora Uma História" e "Prisma Luminoso" abrange dois anos bastante criativos do cantor e compositor. Além de músicas de sua autoria, há parcerias com Elton Medeiros, com Sérgio Natureza e com Capinan, além de músicas de outros compositores, como Jorge Mexeu, Armando Santos, Zorba Devagar e Micau, Dona Ivone Lara e Hermínio Bello de Carvalho, Eduardo Gudin e Paulo Cesar Pinheiro e Cartola e Bide, espalhados entre as 22 músicas do disco.  


Como se vê, Paulinho ia buscar parcerias com grandes nomes do samba, mas também garimpava, entre compositores totalmente desconhecidos do morro, pérolas que dificilmente seriam conhecidas não fossem as gravações de um artista mais famoso. Aliás, foi garimpando assim que Beth Carvalho gravou, num só disco, quatro ou cinco composições de um desconhecido sambista chamado Nelson Cavaquinho. Uma curiosidade: Nelson tocava violão e ganhou o apelido de Cavaquinho. E Paulinho, cujo instrumento principal era o cavaquinho (embora toque violão muito bem) acabou apelidado de "da Viola", apelido dado por Sérgio Cabral, o pai, grande jornalista, biógrafo e profundo conhecedor do samba.  


Segue a relação de músicas. As que não tiverem autor são só de Paulinho. "Rumo dos Ventos", "Só o Tempo", "Não É Assim", "Pra Fugir da Saudade" (com Elton Medeiros), "Amor Ingrato" (Jorge Mexeu), "A Maldade Não Tem Fim" (Armando Santos), "Meu Violão", "Que Trabalho É Esse" (Zorba Devagar e Micau), "Nós Os Foliões" (Sidney Miller), "Brancas e Pretas (com Sergio Natureza), "O Tempo Não Apagou", "Retiro", "Cadê A Razão", "Mas Quem Disse Que Eu Te Esqueço" (Ivone Lara e Hermínio Bello de Carvalho), "Mais Que A Lei Da Gravidade" (com Capinan), "Prisma Luminoso" (com Capinan), "Documento" (Eduardo Gudin e Paulo Cesar Pinheiro), "Quem Sabe" (com Elton Medeiros), "Cisma", "Não Posso Viver Sem Ela" (Cartola e Bide), "Só Ilusão" e "Toada".  

 

Trata-se de um ótimo documento para quem quer ouvir aquilo que já era uma ótima obra gravada há 40 anos de um compositor que, aos 80 anos, continua produzindo com grande qualidade.   

 

O disco está à venda nos bons sites do ramo. Mas, para ser ouvido, não encontrei a seleção e sim os dois separados, nos seguintes endereços: https://www.youtube.com/results?search_query=Paulinho+da+Viola+Prisma+Luminoso e https://immub.org/album/a-toda-hora-rola-uma-historia . 

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