quarta-feira, 8 de maio de 2024

Belchior de novo

 Por Ronaldo Faria

 


O cinema de Salvador esconde dois corpos púberes a ver que um filme qualquer será (saberemos lá ou saber-se-á). De repente, as mãos se unem. Mãos de ainda jovens, sonhadores de que a vida é só um lumiar contínuo a beirar a certeza de que felicidade há. Bobos em si, na tragédia familiar. Crianças e jovens numa descoberta que nunca existirá. Para essa peça, na peçonha da existência, vozes de mulheres velhas a destruir o que pudesse vir. Romeu e Julieta ensanguentados nas ladeiras que a prosopopeia (seja isso o que for) diz ser o destino desnorteado de qualquer tempo.
Constantino, que tem nome parecido com quem sobreviveu ao apogeu de Constantinopla, relembra seu passado que houve (ou terá realmente havido?). Na foto 3x4, um fotograma que hoje já não há, o rosto que rompe têmporas e temporalidade. Tântricos desejos e benfazejos cortejos de nunca mais voltarão. No vão da saudade, a realidade que só a lucidez da embriaguez dá. E revolve tempos, resolve átimos da mente, mistifica o que o corpo físico não consegue recriar com a clareza da tela que está defronte dos dois amores mortos taciturnos e condenados a nunca retornar.

II
 
Parar ou não? Paralisia do porvir. Crença do ineficaz porvir e surgir. Incandescência no meio do nada. Um nadar contra a correnteza que a certeza prova ser finita. Apagar e ressurgir, no frigir de ovos e óvulos que não temos como crer que a terra que os cobrirá seja leve. Não será. Sejamos, pois, entregues às chamas que matarão o que nos fizeram morrer. E assim possamos dormir em lençóis requentados de corpos que já não se encontram, bocas que não se enlaçam, pernas que não transpassam. Afinal, isso são os anos de qualquer ser, tenha duas ou quatro pernas, rasteje ou não no chão, flutue ou nade na eternidade desse globo em glóbulo ocular. “Foda-se”, grita o homem diante do seu amor maior. No sortilégio do egrégio pulsar, a pusilânime sentença que a saudade traz.

Zé Geraldo

 Por Ronaldo Faria A viola viola o sonho do sonhador como se fosse certo invadir os dias da dádiva que devia alegria para a orgia primeira...