sexta-feira, 11 de agosto de 2023

Pavilhão 9

Por Ronaldo Faria


Aonde irá parar a violência que nem a ciência da mais próspera chegança dá?

 Ele caminhava quieto e único na via empoeirada e escura que vai dar nas quebradas. Pouco pensava. Sua cabeça endoidava a cada puxada. A brisa exalava o pouco que restava da rua, na moral. Casebres de poucos metros quadrados enquadravam as cenas que nunca serão guardadas nos olhos de quem não enxerga além das pálpebras. Em cada espaço há vidas, ávidas de serem reais além das páginas policiais.

Na estrada que se faz estardalhaço em um 190 qualquer que põe a sirene a gritar, passa um camburão que carrega preconceitos e balas prontas para disparar. Ele não estremece. “Nada devo, ou se devo não sei. Aperte o play”. Vai devagar, com um passo a cada próximo passo que pesa nos pés. É foda seguir os rumos em desaprumo que a vida dá. Mas ele segue. Exangue, cumpre a complacência de cada dia no bagulho.

Logo estará a chegar. Mas, a qual lugar? Se tiver onde deitar, largar o corpo cansado e passado, já está bom. O dia foi marrento, quase sangrento. Ponto a bater, salário mínimo a ver, esperança de virar o jogo a perder nas quatro linhas do crer. Mas não há que se desistir. Algum dia o vir há de vir. Acreditar é preciso, assim como retirar o siso nunca nascido e que um dia irá apodrecer e doer feito filho pródigo e nascituro.

Assim, nessa chegança qualquer, avista a casa de reboco à vista. “Um dia termino a obra”, pensa pra si mesmo, a esmo. E acelera o passo, quase descalço do chinelo grudado com prego. Sabe que um dia o dia amanhecerá distinto. Senão, basta apenas olhar no horizonte, naquele monte de nada que se vê. O importante é seguir a rima, o rumo, o prumo. Como diz a rima, cabeça vazia é a oficina. Quero somente uma vacina.

Ao chegar, abre a porta. Entra no quadrado presto, quieto, sombrio e funesto, Acende a luz, abre a geladeira a gelar poucas cervejas e algumas coisas rasteiras. Acende um do bom e dá boas vindas para a próxima jogatina. Sabe que pouco haverá amanhã. Mesmo acordar, ônibus cheio igual, patrão filho da puta a achar que faz tudo na moral. Antes de apagar, ora aos santos e exus e pede apenas que Deus exista ao menos no final.

Zé Geraldo

 Por Ronaldo Faria A viola viola o sonho do sonhador como se fosse certo invadir os dias da dádiva que devia alegria para a orgia primeira...