quarta-feira, 20 de julho de 2022

Ao Belchior

 Por Ronaldo Faria

Recomeço ao avesso. Corpo vestido de vida. Entre unguentos e feridas. Emoções urdidas e salivas ardidas. Beijos a se perderem no tempo. Nas esquinas sobrevive o vento. Um veleiro talvez a singrar o rio. Na ponta das águas há um mar. Um poeta a cantar. Um trovador a amar. No fim do todo, a certeza despudorada de que existe saudade tragada de tudo. E tem corações largados. Tem casais em orações perpétuas e finais. No caminho, pequenas cruzes que levaram anjos para o céu. Homens enlouquecidos à porta do bordel. Mulheres a deitarem os corpos no colo do desterro que está aquém do chão. Meu pedaço de universo que se atira além do ar.

Avesso do recomeço. Vida vestida de corpo e copo. Feridas que são unguentos. Ardidas emoções e urdidas salivas em sálvia. Tempo a se perder nos beijos. Vento que às esquinas vive. Rio que se deixa ao veleiro singrar. Um mar, sem ponta, às águas. Cantoria de poeta. Amar de trovador. A saudade despudorada do fim que se traga de tudo para o todo ser. Largados corações. Finais casais em perpétuas orações e porções. Anjos, do céu, caminham entre as pequenas cruzes que levaram. Na porta dos enlouquecidos, um homem e o bordel. Aquém do chão, desterro de mulheres em seus corpos deitados. No universo que se atira, um pedaço meu vai além do ar.

Zé Geraldo

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