sábado, 29 de janeiro de 2022

Verônica Sabino a nos olhar

Por Ronaldo Faria

Prometi escrever aqui, aos poucos, sobre os integrantes do Céu da Boca, grupo musical carioca que nos anos de 1981 e 1983 ganhou o prêmio de Melhor Grupo Vocal, conferido pela Associação de Críticos de São Paulo, e marcou seu espaço como a integração de vozes masculinas e femininas num tempo onde o normal era ter quartetos de um sexo ou outro apenas (é o segundo artigo deste blog). Pra relembrar, no Céu da Boca despontaram para o cenário musical Paula MorelenbaumMaucha AdnetMárcia RuizVerônica SabinoRosa LoboPaulo “Pauleira” MalaguttiPaulo BrandãoChico AdnetRonald Valle e Dalmo Medeiros

Aqui vou tratar de um show da Verônica Sabino: Bossa, Balanço e Balada. O DVD é o Esse Seu Olhar. Filha do grande cronista, jornalista, músico, baterista e escritor Fernando Sabino, um mineiro/carioca ou um carioca/mineiro, ela começou a carreira fonográfica solo em Metamorphose, de 1985, com a produção de Roberto Menescal, que a acompanhará em músicas e papo nesse espetáculo.

A partir daí nasceram outros dez álbuns solo entre vinil e CDs/DVDs. Em Esse Seu Olhar ela percorre as décadas de 50/60 do último século musical no Brasil, o bolero e rock de Elvis Presley. Você tem, de certa forma, Geraldo Viramundo, um andarilho criado por seu pai em O Grande Mentecapto, que vai de cidade em cidade em busca da felicidade. Como ela fala no making of, além disso há o prazer do encontro. E este marcou o show que percorreu Ouro Preto, Araxá, Uberaba, Tiradentes, Belo Horizonte e Juiz de Fora, onde foi gravado. A carioca de raízes mineiras de volta ao lar afetivo.

Dos Anos 50/60, Verônica traz para os nossos ouvidos e corações as canções Demais, Ouça, Saia do Meu Caminho, Por Causa de Você, Insensatez, Besame Mucho, Kiss Me Quick, Adeus América e Influência do Jazz.

Em Chega de Saudade, ela chama a plateia a cantar, como no Japão cantaram numa apresentação sua, e sai do palco. Quem estava no Cultural Bar, em Juiz de Fora, naquela noite de março de 2013, não deixa por menos. Segue o instrumental em cada nota, no tempo dela mudar de visual e trazer à vida outros clássicos da Bossa Nova. Vêm Você e Eu, além de Se é Tarde Me Perdoa. Depois, uma homenagem aos 50 anos de O Barquinho, com a presença vocal e no violão de Menescal. Ele que a acompanha ainda em Samba de Verão. Depois, Verônica une numa coisa só duas garotas: a de Ipanema e a Nacional. Uma simbiose perfeita, única e plural. 

O show termina com ninguém menos do que Milton Nascimento, em Nada Será Como Antes. Essa música foi o tema da minha formatura na turma de Jornalismo da PUC em 1981. E de forma incrivelmente real, para mim, nada foi como antes. Mas volta a ser quando revivo Verônica Sabino. Nos 54 minutos de show e nos CDs que tenho dela, o Rio de Janeiro retorna pleno. 

A sua trajetória musical e de outros ex-integrantes do Céu da Boca nos dá conta de que tudo pode ser como antes. Afinal, se você une talento, qualidade musical e vontade, não há porque ser diferente. Neste DVD e em tudo que fez na MPB, Verônica Sabino é a prova viva e universal desse teorema.

É possível ouvi-la neste disco no Spotify, no Deezer e no Amazon Music. Para uma geral dessa musa da MPB, https://www.ouvirmusica.com.br/veronica-sabino/

Zé Geraldo

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