sábado, 5 de fevereiro de 2022

Mario Adnet: um carioca de fina estirpe

Por Edmilson Siqueira

A voz dele lembra a de Tom Jobim. Mas Mario Adnet, além de amar o nosso maestro soberano, passeia tranquilo por várias influências. Nos 15 discos gravados, além de participação em outros, ele já andou por vários caminhos, todos bonitos e prazerosos.  Além de Jobim, ele se dedicou a esmiuçar Villa-Lobos, Moacir Santos, Luiz Eça, Baden Powell, entre outros. E ele mesmo, claro, já que é excelente compositor. 

Mario tem raízes musicais. É sobrinho da pianista Carmen Vitis Adnet e irmão do músico Chico Adnet e das cantoras Maúcha Adnet e Muiza Adnet. Além disso, é pai da também compositora Antonia Adnet, da musicista Joana Adnet. Já o famoso Marcelo Adnet, que tanto nos diverte com seu humor, é sobrinho de Mario. 

Aos 64 anos, Mario é dono de robusta carreira. Começou com um disco independente, junto com o parceiro Alberto Rosenblit, fez mais um disco independente e outro pela Biscoito Fino. Só 20 anos depois dessas primeiras aventuras - época em que se dedicou mais à produção - é que abraçou Villa-Lobos e partiu para outras aventuras, mostrando toda a influência que teve, com discos dedicados também a Jobim, a Vinicius e a Baden Powell. Embora considere Villa-Lobos como que um mestre a pairar sobre todos, o homem que deu a musicalidade ao brasileiro, é para Jobim que Mario Adnet dedicou mais estudos e discos. 

Tenho três discos dele e pretendo completar a coleção, já que ouvi-lo é um desses prazeres que se alongam pelo fim do dia, ganham a noite e, se deixar, varam a madrugada. Foi um dos mais tocados no CD player do nosso carro quando carros tinham  CD players. Agora, os três discos estão, com outras milhares de músicas, num pendrive. Como mando o programa escolher as músicas aleatoriamente, às vezes ele aparece para nos encantar. Mas ouço mais em casa mesmo. 

Coração Popular, gravado no ano 2000, com a música de Villa-Lobos tornada mais popular ainda, foi o primeiro disco dele que tive. Trabalho primoroso de arranjos e orquestração, com a obra do mestre tratada com todo respeito. Pelas músicas percebe-se ainda mais a grandiosidade do maestro que se refugiou nas salas de concerto por total impossibilidade de sair por aí tocando tudo que criava. Ao site Borandá, Mario Adnet falou sobre Villa-Lobos: "Posso dizer, com segurança, que ele lavou a alma de várias gerações que passaram a gostar de música por sua causa. Colocou todo o Brasil para cantar: pobres, ricos, em colégios e nos estádios de futebol. Mas, apesar de ser tão popular, de adorar a rua, Pixinguinha, Cartola, Donga, o compositor, naquela época, só teve como caminho as salas de concerto.”

Sobre o disco, Mario declarou que “Joana (Adnet) e eu escolhemos pelo ouvido e, depois, quando percebemos, tínhamos coberto fases de toda sua vida. Não mexi muito. Porque é genial. É genial! Não desconstruí. Não desmontei o que ele fez.” 

E não desmontou mesmo, só tornou melhor, mais bonito, em suas inspiradas intepretações.  

No mesmo ano gravou também Para Gershwin e Jobim e no próprio encarte ele explica o que motivou a união desses dois gênios da música: "Desde pequeno ouço e admiro a música e Antonio Carlos Jobim. Através dele e dos Chopins e Debussys do piano da minha mãe, descobri o universo erudito, os grandes compositores, principalmente os que o influenciaram - e aí se inclui, naturalmente, George Gershwin. Com o tempo fui descobrindo as semelhanças entre os dois, como, por exemplo, o fato de que cada um, à sua época e guardadas as devidas proporções, revolucionou a música popular de seus país e atravessou fronteiras." 

E o disco é o resultado da influência desses dois gênios, entre os quais o próprio Adnet se imiscui, humildemente, para fazer suas homenagens. São apenas duas músicas de Gershwin (I Got Rhythm e Love Is Here to Stay) e uma de Jobim (Desafinado). Nas outras dez, Mario Adnet mostra todo seu talento com lindas canções que, com certeza, Jobim e Gershwim aprovariam.

Em 2002, sai Rio Carioca, onde Mario Adnet já se sente à vontade para subir mais alguns degraus na carreira. No disco, além de dividir músicas com alguns parceiros como Bernardo Vilhema, Lisa Ono e Lysias Enio ele abre o disco com Cidade Mulher, de Noel Rosa, canta música de Claudio Nucci e acrescenta três números instrumentais da maior qualidade. 

Há muito o que se ouvir de Mario Adnet, que considero um dos melhores compositores brasileiros da atualidade. Os três discos citados aqui não os encontrei à disposição no YouTube. Estão à venda nas boas lojas virtuais do ramo.

Zé Geraldo

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