segunda-feira, 20 de maio de 2024

Cassiano Ricardo, nem sei lá porque lembrei, mas é musical

 Por Ronaldo Faria

 


Cassiano, que nada tem a ver com o poeta Ricardo, serpenteia em si mesmo. Corre de barriga no chão pelo asfalto infausto chapiscado e ignorado, brinca de volatizar brejeiro e ser concreto no feto que nunca desabrochou do ventre da mulher amada, cálida e calada, porque não era hora de nascer.
Cassiano, que sequer sabia que a palavra cápside existia, não tinha métrica ou nada que fosse forma tétrica ou esotérica para se fazer. Nem destinatário tinha. Mas quem, em vida, o tem? Diante do cemitério próximo, o óxido que se fará coisa solúvel se calor e umidade forem a melhor maneira.
O que sobrou? Saudade das terras corridas, carcomidas pelo tempo, fugidas entre dias corridos, chegadas e partidas. Para Cassiano, dramático e atávico ser, o agora não era ágora ou nada a dizer. Somente saudade, dessas que a vida não dá cria. Que o coração sentencia para a prelazia do coração.
Cassiano, mero ser a ser em si, é um transgressor do destino, desses malucos que acreditam que o sonho irá se sobrepor aos pesadelos sem zelo que chegam nas noites, sejam elas de inverno ou verão. Na besta certeza de crer que o desejo um dia será dia e noite, o açoite que bate sem dó no corpo.
Na rede que se arma na vida para o mundo parar, a paralisia que o amor, desse que nunca se deixa de amar, traz os pés para o chão, de antemão. Na extrema vazante que a seca deixa o rio seco de areia branca, o desejo que se sabe entre a poesia e a realidade. Uma coisa a querer na infância desmedida de crer.
E Cassiano ouve do boiadeiro um vamos voltar ao passado, rever memórias e histórias, passos inexistentes, mesmo que se tenha plantado à espera de décadas atrás. Quem sabe carros de boi com sabugos de milho vermelho, redes no alpendre que alguém morrerá, inertes rimas a saborear a falsa imensidão.

Zé Geraldo

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