sábado, 15 de outubro de 2022

A chuva sobre Santiago de Piazzolla

Por Edmilson Siqueira 

Astor Piazzolla é um desses gênios da música que a Argentina e o mundo vão cultuar para sempre. Sua obra, quase toda instrumental, é de uma qualidade ímpar. Ao enveredar em novos caminhos para o tango, Piazzolla acabou por criar sons e melodias que, embora fincadas em raízes argentinas, têm todo um contexto universal, daí a merecida veneração que ele obteve em vida em vários países do mundo. Sua música tem influência do jazz, pois viveu em Nova York a partir dos quatro anos e onde, aos nove, ganhou seu primeiro bandoneon. Estudou música e até apareceu num filme de Carlos Gardel (El Dia Em Que Me Quieras) rodado em NY, como um entregador de jornal.  


Quando os mais tradicionais argentinos diziam que o que ele fazia não era tango, respondia que se tratava de "música contemporânea de Buenos Aires". E era, sem sombra de dúvida, a melhor representação da capital argentina. 


Tenho nove CDs de Piazzolla, que abrangem boa parte de sua obra, embora falte muito ainda pra ouvir. E um dos meus preferidos nem é muito reverenciado por aí. Trata-se de "Il Pleut Sur Santiago", com seis músicas da trilha sonora que ele compôs para o filme do mesmo nome, drama franco-búlgaro de 1975 dirigido por Helvio Soto, detalhando o golpe de estado chileno de 1973. Em apenas dois anos, Piazzolla percebeu exatamente o que seria o período da ditadura Pinochet.  


A trilha é toda sombria e forte, mas tem melodias formidáveis. Ela é composta de "Salvador Allende", "Combate en la Fabrica", "La Maison de Monique", "Bidonville", "Il Pleut Sur Santiago" e "Jorge Adios". Todas são ótimas, mas a quinta, justamente "Il Pleut Sur Santiago", é obra prima.  

Das outras seis músicas, cinco delas, "Pulsacion", números 1 a 5, foram para um filme experimental sobre o pintor argentino Carlos Páez Vilaró 

O disco se encerra com outra de suas obras primas, talvez a maior,  "Adios Nonino". Essa música foi feita em homenagem ao seu pai, Vicente "Nonino" Piazzolla, quando ele estava no leito de morte, em 1959. Após vinte anos, Astor Piazzolla disse em uma entrevista: "Talvez eu estivesse rodeado de anjos. Foi a mais bela melodia que escrevi e não sei se alguma vez farei melhor". E, por muito tempo, ele se recusou a escrever ou colocar uma letra na sua grande obra-prima, porém, aceitou a proposta da cantora argentina Eladia Blázquez, que lhe apresentou um poema que havia escrito sob a versão musical. Piazzola, comovido, concordou. Eladia renunciou a quaisquer direitos autorais sobre a obra. 


No YouTube você pode assistir tanto ao filme completo como também ouvir o disco inteiro. Disco: https://www.youtube.com/watch?v=rE8USXSpcSc. Filme: https://www.youtube.com/watch?v=pJQwX8kbJAY . 

Zé Geraldo

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