quinta-feira, 11 de janeiro de 2024

Os Mutantes em instantes, maestro

 Por Ronaldo Faria


Ultrapassagens e viagens, paisagens e métricas metragens. Coisas de sacanagem, homenagem de um ébrio que tenta viver entre uma e outra lucidez. Na avidez de ser, Clemêncio vivia, como o nome dizia, em clemência permanente contra a demência da ausência. Ao longe, na longínqua terra de Nunca Mais, a sagaz imperatriz Vitorina gritava, da latrina, com a serva que tinha esquecido o papel higiênico folha quadrupla e cheiro de rosas do campo. “Enforquem essa cretina! É uma ordem”.
Comiseradas e famigeradas rimas criadas só pra servirem de cova rasa, na brisa que não tem nem uma réstia de vento ou sopro de alquimia, são o palco da festa sem aplauso. Clemêncio, casto e castrado desde há muito (tentou flertar com a mulher de Gengis Khan), apenas sabia nada saber, enganador profissional. Já Vitorina, ninfomaníaca, governava como abelha rainha que mata o zangão como fosse essa a única sina. “Sem morfina nele. Cortem-lhe aquilo que não traz prazer para sua rainha!”
No som de um jardim elétrico, eletrocutado à força, Clemêncio segue “it’s very nice pra xuxu”. Só ainda não sabe se, ao perder a bússola da própria existência, esqueceu a lucidez ou se achou a demência. “Seu João, serve mais umas mil dessa, seja lá o que essa for.” Já no quarto cercado por mil guardas armados até os dentes, mesmo sendo a maioria banguela (no reiuno não havia plano de saúde), Vitorina pedia uma rima pra si. “Guilhotina no poeta, já que essa é a sina de quem se acha profeta!”
 
 No fim de tudo, arguto e sabendo que quem tem, tem medo, o escritor faz lobotomia em Clemêncio, dando-lhe nova alegria, e incentiva um golpe de Estado (feito pelos pobres e oprimidos) contra Vitorina. Estava forjada a sina. Vida longa aos loucos e mutantes!


Zé Geraldo

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