segunda-feira, 5 de dezembro de 2022

Saudade do tipo Caymmi

 Por Ronaldo Faria

Saudade do tipo Caymmi, largada entre duas árvores e uma rede. Esquecida de si e dos outros, entrecortada de ladeiras e esquinas onde, em cada canto, entoa um cântico mágico e febril. Saudade zerada como o catecismo de Zéfiro a ser reescrito em sânscrito ou braile e correr dedos e bocas ocas, seios apalpados e pálpebras fechadas de sono.

Saudade amenizada, múltipla de um improvisado ofurô a furar raios do sol na sua plenitude luminosa. No meio de tudo, fuzuê de corpos e copos enlatados a desaguarem ralo para dentro. Daqui, na saudade, adentro horas vividas, praias perdidas, pimentas ardidas, goles despejados entre línguas e lânguidas tardes.

Saudade encruada, dessas que fica presa entre as presas do animal louco para lamber as feridas da amada. Como um barqueiro fumaça a ungir de negror os espaços livres dos manguezais. Nas noites de lua cheia, bebidas mexicanas pedem um pouco dos sais. Na salinidade dos corpos, o gosto apaixonado das têmporas dos amantes temporãos.

Saudade perdida em perfídias que se deixam a cada passo, mas são amenizadas pelo calor que exala da sala de estar. Nela, a vela da paixão queima quieta e letal. Do lado de fora, pessoas se perguntam para onde vão. Entre duas delas, um vão. Uma estrada de pés descalços, percalços e calçadas onde se pode sentar e bendizer a vida em olhares mil.

Saudade, por fim, sem nunca se dar fim ao infindo, mesmo que este sobreviva na finitude da vida única. Porque tal saudade vai além do horizonte dos olhos e se entreolha na cama qualquer como fosse o primeiro dia. E depois diz a si mesma: “Do teu lado, e somente do teu lado, sei que a saudade, por mais doída que seja, é a melhor coisa a se sentir nessa tal de saudade do amor”.

Zé Geraldo

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