quinta-feira, 18 de abril de 2024

o frigir de ovos e óvulos

Por Ronaldo Faria


 

Que se foda o que irá por vir. O porvir não é e nunca foi aquilo que gostaríamos que fosse. No fosso de nós mesmos, a corrigir teclas erradas (e haja erros no que sobra de lucidez), mudemos de D2 para Ney Matogrosso. No texto a escrever, o osso.

 Sinfrônio, homônimo de ser algo ou alguém, transitava na diáspora que a vida ainda dá. Saboa ele que era mera sintonia entre a realidade o final, mas pouco importava na atávica chegada de parecer ser mortal. Imortal, já sabia ele, que não era. Nunca o foi. Gerado ao acaso que cada caso dá, numa trepada alucinada de qualquer na vida louca de nós, ele seguia na madrugada como um alguém sem ninguém. Mas não fora para isso que as madrugadas foram feitas, afeitas a um limiar sem querer nada?
Sinfrônio, codinome de bêbado que não sabe dizer se veio daqui ou se irá para lá, bambeia nas letras e sabe que no dia seguinte será pedinte de si mesmo. Mas, pouco importa. Às portas da noite quente e fria, pragueja ser alguém aquém do que se é. Benfazejo no ensejo madrigal, se entrega ao nada, a nadar e saber que se afogará. O lugar é algo que se pode rimar. Os dedos já não respondem. E nem sabem de onde vêm. No limiar da loucura, a insensatez delimita a conexão entre a derradeira centelha e a vez.

Lulu Santos a surfar na lembrança em desandança

 Por Ronaldo Faria


Enraizado no Rio do passado, entre um mar vaticinado a lindas mulheres com suas ancas e peitos, cigarros diferentes e a vida, ávida, de frente, logo defronte a um mar e suas ondas cheias de frio e sabor, fica o menino sem sonhos e ilusões. Talvez fugas fugazes entre linhas de trem, caminhos no lado zen que um Maracanã lotado em preto e vermelho que deixa a certeza de que amanhã é dia de voltar à escola onde a burrice atávica pede esmola a alguém no quem será. No futuro inóspito e próspero de logo ali um chá irá dar seu lugar num espaço quente e fervente que dinamites destruíram logo depois. Na gama de futuros filhos, o imbróglio de crer ou não na mão que tudo dita e diz. E fica a pergunta: para que então eu estou achando que sou eu a pensar e refletir em mim?
Na zona que o sul de um lugar faz ser eu em mim, minúsculo ser na vida que chegará logo longe e depois, o garoto brinca de marcar etéreos gols, dá golpes nas facas que matam sem rasgar e sangrar, se vira no silêncio ensurdecedor que a história faz brilhar a cada noite do depois. E há bares no embriagar de baixos que o Leblon fez de um chacareiro francês milhares de cachaceiros do amanhã. No som sintomático e dramático que cada frase desnuda em si traz, a amorfa forma de se transmutar e se largar. Um lagar haverá de existir em qualquer lugar. E terá cheiro de renovar, morte ou jasmim. No quadrado que vira a vida, um retângulo trará álgebra ou aritmética para a métrica da poesia. No papel, Papai Noel sabe que não virá este ano porque o menino se fodeu.
Nas areias que arestas de lembranças já nem sabem se de verdade existiram num estiro e respiro de tríades, os corpos tomam pingos de chuva caída só para lavar o passado destronado nos goles que se engolfam de realidades mil. O primeiro beijo de paixão verdadeira, a prostituta a ganhar seus mil réis sem trabalhar, a insensata asneira de se achar num lugar. Hoje, sabemos, que tal chegar se fará em cinzas e fogo para um renascer que nem a Fênix saberia criar. Pelos, penugens, vertigens, loucuras mil, desejos infindos, escorpiões em nascer e ascendência, caminhões a correr em madeira a terra do Nordeste de pó e perdões. À saber que dezenas de anos depois o amor sobrevive. Do infante virgem surge Romeu que a Julieta nunca se esqueceu nas asas de Prometeu.

Zé Geraldo

 Por Ronaldo Faria A viola viola o sonho do sonhador como se fosse certo invadir os dias da dádiva que devia alegria para a orgia primeira...