sexta-feira, 3 de junho de 2022

A bossa nova em três volumes

Por Edmilson Siqueira

Se você quiser saber tudo sobre a bossa nova, os livros do Ruy Castro são uma boa pedida. Ele escreveu a melhor "biografia" da dita cuja - Chega de Saudade - e, de lambuja, escreveu outros livros com mais detalhes ainda, como Rio Bossa Nova e Ela é Carioca. 

Mas, se você já leu os livros do Ruy e, agora, quer ter um bom apanhado do filé das músicas, sugiro, entre as inúmeras coletâneas sobre o tema, uma da Som Livre: O Melhor da Bossa Nova, volumes 1, 2 e 3. 


São 49 músicas com um grande número de intérpretes que dão uma visão panorâmica do que foi o mais importante movimento musical brasileiro. Se você discorda da frase anterior, alguns detalhes podem fazer você admitir a primazia da bossa nova sobre outros movimentos: ela, que recebeu influência do jazz, acabou por influenciá-lo também e, argumento definitivo, está viva até hoje. Se não no Brasil, no mundo. Todas as rádios voltadas ao jazz no mundo - e são milhares - incluem a bossa nova na programação, muitas vezes com gravações novinhas, cantadas ou instrumentais. E muitos compositores têm produzido música cuja influência da bossa nova é visível. Grandes intérpretes de jazz e até de pop incluem sempre um clássico de Jobim, ou de algum outro compositor brasileiro em seus discos de carreira. E há aqueles que, como fez Frank Sinatra, fazem um disco inteiro só com músicas do nosso maestro soberano.  

Bom, se você não se convenceu, paciência. Mas se você quer conhecer uma boa parte da excelente música brasileira que hoje é conhecida e admirada no mundo todo, os três CDs da Som Livre vão satisfazer plenamente. 


Juntar 49 músicas da bossa nova e dividi-las em três CDs não é tarefa das mais difíceis hoje em dia. Mas a Som Livre fez algo além disso. O encarte nos discos traz não só as letras de todas as músicas como um pequeno texto biográfico do intérprete (ou intérpretes) ou conjunto que a apresenta, todos escritos por Jardo Nerica. E ainda revela quando foi feita aquela gravação específica. 


Como se não bastasse, o disco ainda apresenta gravações meio raras de algumas músicas, como é o caso de "Samba em Prelúdio" (Baden Powell e Vinicius de Moraes) aqui cantada por Geraldo Vandré e Ana Lúcia. A gravação é de 1962 e o texto ainda revela que Vandré tinha desistido de ser cantor e ia se dedicar somente à composição. Mas o sucesso dessa gravação o convenceu a continuar cantando. 

"Garota de Ipanema" (Jobim e Vinicius) que abre a coletânea é cantada pelos Cariocas e foi gravada em 1962. E prossegue dando um apanhado da bossa nova em seu início, com Johnny Alf, Dick Farney, Wanda Sá, Carlos Lyra, Silvia Telles e Agostinho dos Santos. 


Nara Leão aparece no primeiro CD com "Outra Vez" (Jobim), Elis e Tom cantam "Só Tinha de Ser com Você", do famoso LP gravado em Los Angeles em 1974 e se transformou no principal disco de bossa nova depois do movimento inicial.  


O volume 2 da coletânea continua com clássicos da bossa nova. Logo de cara, o megassucesso de Elis e Tom, “Águas de Março (Jobim). Nara Leão, Marcos Valle, Johnny Alf, Claudete Soares, Sérgio Mendes e Joyce são algumas das outras presenças no segundo volume, num apanhado gostoso e preciso de um tempo em que o Brasil parecia que ia ter um futuro risonho. 


O volume 3 da coletânea começa com Caetano Veloso, Gal Costa e tem também Geraldo Vandré e Os Cariocas, além de Nana Caymmi, Agostinho dos Santos, Baden e Vinicius de Moraes. E não se esquece do grande Roberto Menescal com "Saudade Fez Um Samba" (Ronaldo Bôscoli e Carlos Lyra) e Marcos Valle com "Terra de Ninguém" que ele compôs com o irmão Paulo Sérgio. Nesse disco, Nara também reaparece juntando "Corcovado" (Jobim) e "Insensatez" (Jobim e Vinicius). E, claro, o "Samba da Bênção" (Baden Powell e Vinicius) na famosa gravação de Vinicius, não poderia faltar. Essa música continua ganhando versões europeias, principalmente francesas que ainda fazem sucesso nas rádios de lá. 

Enfim, são discos pra você não só recordar um tempo de grande criatividade na música brasileira e seus principais intérpretes, mas também para ter um sentimento que anda em falta nessas terras tupiniquins: o orgulho. Dá um prazer imenso saber que toda uma geração de compositores, instrumentistas e cantores produziu uma música que até hoje é referência de qualidade no mundo. 


Os três CDs podem ser encontrados nos bons sites do ramo.

Zé Geraldo

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