segunda-feira, 10 de julho de 2023

Já que é junho, que venha Fulô de Mandacaru

Por Ronaldo Faria

 


A quebra da taça de vinho mal usada (culpa de um DVD) em pleno junho de festa nordestina e sertaneja é mau agouro ou a bênção de que algo novo vai chegar? 

Na madrugada tragada de faíscas e ciscas de fuligem que permeiam beijos e lábios sedentos o casal roda em volta da fogueira revoltada por ter sido morta para virar carvão, para ela com certeza em vão. Mas, creiam, os amantes nem sequer ligam e bebericam línguas e rodopios, pé de lá e de cá, sorvem de si mesmos o líquido que precisam para a vida. No vai e volta que revolta o forró para quem não conhece a prece de quem sabe tracejar suas pernas e bofes.

No meio do dia que a noite faz escurecer para saber que pode clarear, o homem olha ao longe a amada que ainda não é ou nunca foi. E se esbanja de desejos e falta de amor, fornica em pensamento com a menor formiga que corre desesperada para o formigueiro e vê, ao longe, o sertão calcinado e queimado como fosse certeza a finita prece de ser feliz na mansidão. Lá longe da colina o vaqueiro busca o gado perdido do patrão que vocifera na sua escuridão.

Mas na cidade que se ilumina de lampiões de querosene há o cheiro de festa, zabumba, sanfona e triângulo. Tem o limite entre a crença e a certeza, entrementes, quem sabe, da própria vida. Meio perto e saber-se-á na trilha, bêbados se juntam numa mandrágora em que o fim é irreal. Mas ficarão sons, zumbidos, cheiros e tons urdidos, ardidos, coisa que crava no coração e caminhadas em perfídias tresloucadas e ensandecidas no candeeiro sem luz.

Por fim, se algum fim existe entre o começo e o derrear, ficam o som do carro de boi, o aboiar do vaqueiro, o acordeom a tocar defronte o casario, o tomar de banho em cuia, a areia branca do rio que morre e mata a cada estação, a sensação de paz, encontro e solidão que permeia até hoje. Senão, existirá a chama que se inflama em quadros que percorrerem neurônios e insônias, como um junho de notícias infames e felizes de forrozar em algum efêmero lugar.

Zé Geraldo

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