sábado, 12 de março de 2022

À Cida Moreira

Por Ronaldo Faria

Calçada vazia e fria à frente, defronte da fronte que gela no rio que corre infante. Frágeis corpos a copularem em lugar nenhum. Na voz que ecoa e voa, ânsia e amor. Um pouco de vestes travestidas de farrapos e trapos, outro tanto de canto e acalanto. Um embriagado a deitar no chão para o sono insone, carente de bocas e beijos, a vomitar na esquina cretina que teima em virar de ponta a cabeça. 

Lua carente acima de todos, a virar pequena e se transformar em cheia. O que irá querer essa lua? Irá parar no céu, nas notas de Orfeu? Far-se-á donzela para se entregar ao sol cheio de calor e tesão? Ou será que, calada e performática, somente irá virar semente num alto que todos não conseguimos enxergar? Ninguém saberá o que falar. No fim, há pouco a dizer naquilo que o destino fez e desfez. 

Asfalto tátil e negro, abandonado ao seu relento e intento. A dar um bom dia à multidão insensata que passa vadia a correr de uma esquina a outra – trupe louca. Diante do espelho, os sonhos tornam-se cabelos a voarem sem destino. No palco, o palhaço vomita de asco pela mulher barbada que vira fada ao tocar do mágico, ser trágico com coelhos esbranquiçados e cartolas inertes num lago.

No espaço frágil e ínfimo do infundado quadrado que enterra sonhos e solilóquios, o toque do dedilhar silencioso. O piano vibra harmonioso. Cioso, o mentor põe a fita métrica para mediar e medir a própria dor. Desesperada, a mãe chama o doutor. A febre alta parece o fim ou um torpor. Lá fora, no aforismo de um cantor, carros são dirigidos por generais. Há um tempo, há gente nas gerais, há qualquer coisa, se nada diante de nós ainda houver...


Zé Geraldo

 Por Ronaldo Faria A viola viola o sonho do sonhador como se fosse certo invadir os dias da dádiva que devia alegria para a orgia primeira...