quarta-feira, 9 de agosto de 2023

Na pedra azul do Paulinho

Por Ronaldo Faria


O rio corre quieto nos vórtices que a natureza dá. E brinca de viver entre as pedras que tanto pingaram que até furaram. Nos atabaques que batem sob o tocar forte que sangra as mãos, se fazem frenéticos os amantes que buscam onde trilhar na estrada de veias e sangue que o coração dá. Quem sabe uma sala de cinema onde mãos buscam os seios sedentos de mãos, o sorver de línguas que saem das bocas para parear outras línguas famintas, a incerteza do limite entre a morte e a vida.

Vestida de branco, a mulher se despe na pele mais branca e branda ainda que lhe cobre o corpo desejado. E sorri como se o amanhã não pudesse chegar ou se aconchegar no corpo do amado. Como uma febre que nos toma a cada noite e faz os cheiros mágicos da poesia florescer, a branda chave que fecha o coração para novas emoções se quebra e, inodora, junta harmonia e tardia centelha a fugir entre rimas e réstias. Quem saberá se amanhã, em ressaca, não abreviaremos o retorno?

No torno que dá acabamento às letras o poeta perpetra a orgia que um dia teve. E lambe pele e pelos, suga sons perdidos em camas que recebem milhares de desamores e brinca de algo qualquer. À sua lembrança, a mulher. Na inocência da pueril incerteza, a leveza da vida. Essa coisa triste que tem início, meio e fim. Como uma pedra azul a rebrilhar fulgurante no desejo do amante a ser. Do seu canto finito o poeta antevê a brincadeira sem graça que é viver para poder somente sobreviver...

Zé Geraldo

 Por Ronaldo Faria A viola viola o sonho do sonhador como se fosse certo invadir os dias da dádiva que devia alegria para a orgia primeira...