sexta-feira, 29 de julho de 2022

O samba nosso de Maria Rita

Por Edmilson Siqueira 

Maria Rita continua fazendo muito bem o que sabe: cantando excelentes músicas do seu jeito que lembra a mãe, a eterna Elis, mas o que não a impediu de construir carreira própria, baseada na escolha de um ótimo repertório, de grandes músicos na cozinha e de produções sérias que aliam o bom gosto e a criatividade. Assim é um de seus trabalhos que não canso de ouvir até hoje: Samba Meu, uma deliciosa seleção de sambas que nos é oferecida por uma grande intérprete que foi buscá-la na raiz do que a MPB tem de mais autenticamente urbano. O samba carioca, que veio do morro (no tempo em que o morro não tinha toque de recolher comandado por traficantes) e ainda guarda todas as características que o consagraram, como a letra fácil sem ser comum e o swing inconfundível da batida na qual se baseou João Gilberto para ajudar a inventar a bossa nova.  


Maria Rita desfila no CD com 14 sambas dos mais preciosos, onde pontifica a participação de Arlindo Cruz, um dos mais criativos sambistas cariocas. Mas tem muito mais gente boa na parada e sambas surpreendentes. É o caso da abertura do disco. Acompanhada só de violão, ela canta "Samba Meu" (Rodrigo Bittencourt), nome do CD e também de um samba meio manifesto, porém intimista e que apresenta perfeitamente o que vem a seguir.  

E a seguir vem "O Homem Falou", um sucesso de Gonzaguinha de sua melhor fase. A música seguinte – "Maltratar Não É Direito" (Arlindo Cruz e Franco) – é daqueles sambas feitos por homem com letra no feminino que só bambas conseguem realizar.


Seguem "Num Corpo Só" (Arlindo Cruz e Picolé) e a deliciosa "Cria" (Serginho Meriti e César Belieny), que começa com uma voz de criança, mas não entra na possível breguice: trata-se de um ótimo samba enaltecendo as relações iniciais entre a mãe e sua cria, tratada com humor e inspiração e que acaba se transformando numa das melhores faixas do disco, o que não é pouco dada a excelência do repertório.


"Tá Perdoado" (Franco e Arlindo Cruz), "Pra Declarar Minha Saudade" (Jr. Dom e Arlindo Cruz), "O que É o Amor" (Arlindo Cruz, Maurição e Fred Camacho), "Trajetória" (Arlindo Cruz, Serginho Meriti e Franco), "Mente ao Meu Coração" (F. Malfitano), "Novo Amor" (Edu Krieger); "Maria do Socorro" (Edu Krieger), "Corpitcho" (Ronaldo Barcelos e Picolé) e "Cãs de Noca" (Serginho Meriti, Nei Jota Carlos e Elson do Pagode) completam o disco sem perder a qualidade inicial.


Quem gosta de samba não vai parar de ouvir e quem prefere um repertório mais eclético vai acabar se encantando com as interpretações da moça nesse disco mais que perfeito.  


O CD está à venda nos bons sites do ramo e pode ser ouvido na íntegra no YouTube Music: https://music.youtube.com/playlist?list=OLAK5uy_mCinpJ7cufhxdyHjYq8PHjx94Jy6LOHkk 

Zé Geraldo

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