segunda-feira, 10 de outubro de 2022

A todos cabos da Elis Regina

 Por Ronaldo Faria

Na cadência estropiada da demência, clemência aos amantes. Desconcertantes seres que vivem a ludibriar e driblar saudade e ausência.

José toma mais um gole na degola da saudade amiúde e torpe. Entorpecido, esquecido de si mesmo, a esmo, sonhava com a amada há muito não vista à desdita. Ao fundo, As Times Goes By. Sem um adeus sequer. Um cadavérico ou feérico supor daquilo que poderia ter sido e não foi. Ao som de um trompete na noite, mistura de afago e de açoite.

José, no seu bar com banheiro privativo, vê o altivo tocar de metal tal e qual. Sopro a viralizar a ausência de cheiros de fritura e toques de ternura. Num espaço fora, cataclismos de novos amores, quando dois corpos se juntam e fazem tremer camas que se jogam de lá para cá e vão a correr quartos como se fossem inventadas às lufadas de tesão.

José, homem comum e qualquer, caminha a se desvencilhar de luzes obscuras e escuras que surgiam ao pleno sol do acordar. Solitário, surgia incauto sob o iluminar de postes que brilhavam entre cimentos e concretos coloridos de cor qualquer. Uma hora um vermelho de carros a frearem na esquina, outra vez um rubor de rostos que se entregam ao amor.

José, filho de casamento desfeito desde o momento feito de silêncio e dor, se esmera de ser. Apenas sê-lo. Há muito não lambera um selo para escrevinhar cartas escritas com letra inteligível até para a amada e mulher. No insólito introito de uma poesia finda e finita, sabe agora apenas, ao menos, se desculpar às futuras gerações por se deixar poetizar.


Na clemência tardia da excrecência, ausência dos delirantes. Discrepantes senhores que nada são ou, se muito, pouco em pouco, a pouco, definharão.


Zé Geraldo

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