terça-feira, 19 de julho de 2022

A ótima música de Marcelo Onofri

Por Edmilson Siqueira

Marcelo Onofri é mais um desses geniais músicos que tiveram a cidade de Campinas e o curso de Música da Unicamp como referência por um tempo. Gravou alguns CDs, todos aclamados pela crítica. O primeiro deles foi em 2003, e se chama "Dança". Esgotou e é difícil até de achar nos arquivos das redes. Eu ganhei uma cópia do amigo Osny Chaos, dono da histórica Hully Discos, a lojinha de raridades e de ótimos bate-papos no centro de Campinas que hoje já não existe mais.  

 Músico da noite e do dia, Marcelo juntou um belo time para fazer companhia ao seu piano e à sua voz. Lara Ziggiatti no violoncelo, Anderson Alves na clarineta, Gilberto de Sylos no contrabaixo, fretless e baixo elétrico e Ramon Montanheur na bateria e percussão. Além desses, que formam o quinteto básico, Marcelo chamou outros amigos para compartilhar com ele o prazer de tocar e cantar. Tanto assim é que logo na segunda e terceira músicas do CD encontramos André Sanches na viola e Márcio Sanches no violino. Primeiro eles tocam a “piazzoliana” "No Velho Texas" e depois a bela "Bel", ambas do próprio Marcelo.  


Mas, embora seja um compositor inspirado, Marcelo se entrega de corpo e alma a grandes standards da MPB. A música que abre o CD, por exemplo, é um surpreendente "Um Trem para as Estrelas" (Cazuza e Gilberto Gil), que ele canta tranquila e prazerosamente. Outra surpresa é "Acontece", um dos clássicos de Cartola, que Marcelo apresenta só com o piano e sua voz, realçando a simplicidade e a força de um compositor genial.  

Já em "D.B.B.", a música seguinte, as raízes eruditas e populares de Marcelo se afloram. A sigla significa "Divertimento Barroco Brasileiro" e pelo nome já se pode prever a mistura que acontece, onde não faltam o chorinho e o clima dos salões do tempo do império. "Borda de Lenço" poderia ser confundida com alguma música perdida do Clube da Esquina, mas é de Marcelo também, com mais uma boa letra.  

O som apenas instrumental volta em "Tio Juba", também de Marcelo, homenagem às suas lembranças de infância e com o preciso e precioso socorro vocal de Catina de Luna. E embora pudesse encerrar o disco com mais composições suas, Marcelo deve ter preferido se jogar aos arranjos e à sua ótima performance ao piano para mostrar "Caminhemos" (Herivelto Martins) que aqui nos é oferecida com uma introdução de nada menos que uma suíte francesa em dó menor de Johan Sebastian Bach. O CD termina com a valsinha "Quem Sabe" do nosso Antonio Carlos Gomes com letra de Francisco Sampaio executada a caráter, com a presença da soprano Eliane Coelho, da Ópera de Viena.  

A quarta música surpreende: a singela valsinha de Sivuca e Chico Buarque, "João e Maria", ganha um arranjo especial para o solo de violoncelo, enveredando por caminhos nunca dantes imaginados pelos seus autores quando entra o piano de Marcelo. Na próxima, "Eu, Dança", Marcelo foi buscar a afinada voz de Catina de Luna para lhe acompanhar, além de tascar um trecho de Fullgás, o sucesso de Marina Lima que ela compôs com Antonio Cícero. Nessa música, aliás, podemos ter uma espécie de síntese da obra de Marcelo Onofre: a música flui naturalmente, o arranjo é bem cuidado e a letra é dessas que dá vontade de cantar junto.  

Resumindo: quem encontrar o CD por aí não hesite em comprar ou tentar arranjar uma cópia. Vale a pena. 

Zé Geraldo

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