segunda-feira, 12 de dezembro de 2022

Nat King Cole em dobro

Por Edmilson Siqueira 

Uma das vantagens do CD que as gravadoras aproveitaram foi o fato de nele caberem dois LPs. Muitos sucessos antigos e que não tinham mais chance no antigo formato, acabaram virando, se não campeões de venda, pelo menos um bom negócio, inclusive para os artistas ou seus herdeiros.  


O grande Nat King Cole, por exemplo, morreu em 1965, com muitos LPs gravados, alguns considerados verdadeiras da música norte-americana. Pois em 1992, a gravadora Movie Play se aproveitou do acervo de Cole e lançou em CD não um, mas dois de seus LPs, ambos ótimos, por sinal. E ambos os LPS foram lançados em 1967, dois anos depois da morte de Nat, como coletâneas de alguns de sus sucessos.  


O CD faz parte da coleção "Two In One", uma boa ideia (mais uma, por sinal) de aproveitamento da novidade que ficou pronta para ser comercializada nos anos 1990.  

O primeiro disco colocado no CD foi "Sincerely, Nat King Cole", um título que revela toda o cavalheirismo desse pianista de jazz e ótimo cantor. Aliás, ele começou com trios de jazz, virando cantor só mais tarde, por insistência de amigos que ouviam-no cantar. Ainda bem que topou, pois o mundo ganhou uma voz ímpar, um tom grave que encantou a todos.  


Esse primeiro disco é dedicado mais à tradicional canção americana, lenta, acompanhada de grande orquestra. É um Nat King Cole em plena forma, cercado de grandes arranjadores e tendo um bom repertório à disposição. Canções como "Sweethearts On Parade" (Lombardo e Newman), "Let Tell You, Baby" (Goodwin), Let True Love Begin" (Barkan, Baron e Eddy) e "Silver Bird" (Tobias e Libby), fazem parte das onze canções que preencheram o vinil "Sincerely, Nat King Cole". Quem é fa do cantor - e basta gostar de boa música para sê-lo - vai identificar nessas faixas grandes canções muito bem interpretadas. 

O outro LP que juntaram para fazer o CD é "The Beautiful Ballads". O estilo é o mesmo do primeiro, repleto de ótimas canções e com intepretações impecáveis de Nat King Cole, aqui também acompanhado de grande orquestra e, em algumas músicas, coral. Já era uma época em que Nat havia se desvencilhado dos preconceitos que enfrentara, principalmente em seu programa televisão que durou apenas um ano por falta de patrocínio nacional, embora ele tivesse audiência suficiente para prosseguir.  

"Felicia" (Gilbert e Minucci), "Miss Me" (Ash e Marcus), "A Fool Was I" (Alfred e Adams) e "If I Knew" (Meredith Wilson) são algumas das joias que Nat King Cole gravou e que são aqui reproduzidas. 


Encontrei os CDs separados à venda por aí, mas o que tenho, da coleção Two In One é importado. De qualquer forma, há muita coisa boa de Nat no YouTube para quem quiser ouvir, inclusive as canções desses dois LPs. 

sábado, 10 de dezembro de 2022

Uma pequena coletânea de jazz ao piano

Por Edmilson Siqueira 

Já escrevi aqui que depois do surgimento do CD com suas facilidades e barateamento e de regravação, muitas coletâneas surgiram, com as gravadoras aproveitando seus acervos para jogar na praça muita coisa boa que estava esgotada em vinil. E surgiram ideias também de montar discos com vários artistas, dentro de uma característica comum entre eles. "Baladeiros", "Hitmakers" e outros do tipo, dentro do universo do jazz, foram alguns títulos que reuniram grandes instrumentistas. 


"Piano" é um desses casos. Num só CD, oito faixas foram distribuídas por quatro geniais pianistas: Count Basie, Thelonius Monk, Rolland Hanna e McCoy Tyner. 


O disco abre com Count Basie com duas gravações ao vivo na Europa, em 1958. São elas "How High Is The Moon (Lewis e Hamilton) e "Old Man River" (J. Kern e O. Hammerstein II). Basie aqui está com sua grande orquestra e seu piano é apenas mais um dos seus dezoito instrumentos, onde sobressaem os metais. O arranjo da segunda faixa é de tirar o fôlego. 

Sobre Basie, o encarte no CD afirma que "...A sua performance ao piano sempre foi relegada a um segundo plano pela sua excessiva modéstia, muito embora ele tenha sido o iniciador de um estilo notável pela sua garra melódica bem como pela execução precisa". Precisa dizer mais? 


Já o extraordinário Thelonius Mong, surge nas duas faixas seguintes - "Body And Soul" (Sour, Heyman, Green e Eyton) e "I'm Getting Sentimental Over You" (R. Rodgers e L, Hart), dois clássicos por sinal, sozinho na primeira e acompanhado de sax tenor, baixo e bateria na segunda. São gravações ao vivo também, mas não há informação do local nem do ano. 


A quinta e a sexta faixa estão a cargo de Rolland Hanna e a gravação foi feita em Nova York, em 1973. São elas "Hallelujah" (Youmans, Robin e Grey), tocada num estilo frenético que só os grandes pianistas conseguem, e "You Took Advantage Of Me" (R. Rodgers e L. Hart), um gostoso swing solo de Hanna. 


As duas últimas músicas ficaram a cargo de McCoy Tyner. "Lover Man" (Davis, Ramirez e Sherman) e "What's New (Haggart e Burke) são dois solos de piano muito bem executados. Foram gravados no Musicians Exchange Café, na Flórida, em 1987. 


O CD tem edição nacional e está à venda nos bons sites do ramo. Não o encontrei no YouTube. 

sexta-feira, 9 de dezembro de 2022

Saudades que tive em outros ares

 Por Ronaldo Faria

Atahualpa Yupanqui toca quieto. Há o feto em paixão, extraviado em cada gozo que não se fez na vagina, presto, a habitar em mim. No tanto de afeto, outra realidade passageira, ligeira, inteira. Eu aqui, ereto e incrédulo, entre o meu amor por ti e a realidade de tê-la estanque. Sentimentos fálicos, saudades em deságios, veleidades, quartos mínimos onde cabe, porém, um universo só nosso e sonoro. Cheio de juras e afetos. Versos de beijos lambidos, suores lavados, orgasmos mil, olhares marcados, carinhos desvanecidos, amores passados. Cheiros, línguas, cabelos e fios de barba largados em nossos corpos, denunciando afagos de paixão e tragos de saliva e vida. Carícias, malícias, ofegantes premissas. Eu e você: sevícias. Nosso mundo díspar, em par. Homem e mulher. Dois em um só. Nas madrugadas rompidas e corrompidas das manhãs e tardes vãs, vaticinadas na realidade horizontal, encaixada, apaixonada, tragada de desejos e beijos sobejos. Solfejos, quiçá. Nós e um só, a termos dó dos outros, dos nossos outros e de nós mesmos, pela separação desmedida da paixão impensada de tão incomensurável. Por nos termos guardado no nosso mundo, nas nossas emoções, um para o outro e outro num só, no amor que é tanto que chega a dar dó...

II

Te amo. Te quero. Te desejo.
Nos amamos. Nos queremos. Nos desejamos.
Somos. Seremos. Nos temos.
Nisso, eu e Drummond somos iguais.
Eu e Vinicius à mesma sensação.
Eu e você sabemos: nossa paixão nunca vai perecer...
Te amo. Sou teu. És minha. Somos um só.
E ninguém nunca mais nos roubará um do outro.
Somos como loucos: cazuzamente soltos...
Dois corpos num só universo.
Uma madrugada de único verso.
Eu sou você. Você é eu. Somos espelho convexo...
Teu reflexo sou eu. E eu me vejo em você.
Somos um só: nus, no sol, a viver...
Sendo um mesmo até que o tempo resolva derrear.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2022

Mark Lewis e um ótimo disco de jazz

Por Edmilson Siqueira

"Eu nasci em Tacoma, Washington, em 1958.Meu avô era um saxofonista e ele me deu um sax tenor quando eu tinha dez anos. Eu ouvia jazz em casa -minha mãe tinha muitos discos de jazz e eu podia ouvir Count Basie, Lester Young e o os velhos álbuns de Jazz at Philarmonic - esses eram os meus favoritos - com Oscar Peterson, Ray Brown, Barney Kessel e muitos outros grandes músicos. Um dia, minha mãe me disse "se você gosta de Oscar Peterson, você deveria ouvir Art Tatum". Ela possuía todos os discos antigos em 78 rotações de Art Tatum. Eles eram tão frágeis que se você deixasse cair no chão ele se quebraria em mil pedaços. Eu amei Tatum e comecei a ouvir os seus 78 o tempo todo". 


Assim começa um texto de Mark Lewis escrito no encarte do CD "In The Spirit", com o Mark Lewis Quartet. É jazz de gente grande. Mark Lewis no sax alto, Mark Levine no piano, Larry Grenadier no contrabaixo e Eddie Moore ou Donald Bailey na bateria. O disco foi gravado na Califórnia entre outubro e novembro de 1987. O CD que tenho é importado e não sei se foi lançado no Brasil. Encontrei algumas faixas no YouTube, mas ele está à venda na Amazon, por quase 80 dólares.

O disco começa com nada menos que "Wave", do nosso Tom Jobim e, por mais de sete minutos e meio, o quarteto passeia inspirado na bela melodia brasileira, criando novos momentos baseados sempre naquelas harmonias jobinianas e na batida leve e suave da bossa nova.  


"Don't Cry Janneke", do próprio Lewis, já envereda pelo jazz mais sóbrio, sem deixar de ser simples, como o próprio autor quer que seja sua música. O resultado é um som forte, preciso e melodioso. 

A terceira faixa é "Softly, As In A  Morning Sunrise", de Romberge Hemmerstein, outro jazz rápido onde o sax de Lewis domina a cena.   


A faixa a seguinte, também de Lewis, é a que dá nome ao disco, "In The Spirit". Fugindo um pouco da melodia mais lenta, Lewis coloca um bom swing na composição. 


Outra música de Lewis vem a seguir, "Amy", embalada num blues moderno, onde o som do sax ganha tons mais graves, secundado por um contrabaixo de peso. Uma das melhores do disco. 


"Lonnie Knows", também de Lewis, tem pretensões melódicas mais complicadas, mas o autor se sai bem, simplificando o que, no início, parece difícil.  


Fechando o disco, a sétima faixa foi reservada, como a primeira, para um clássico: "In A Sentimental Mood", de Kurtz, Ellington e Mills. O quarteto, como em "Wave, dá conta do recado tranquilamente, dando um balanço especial ao megassucesso da orquestra de Duke Ellington. 


Trata-se de um disco muito gostoso de ouvir. Pena que só encontrei duas músicas dele no Youtube. 

Presságio natalino

 Por Ronaldo Faria O Natal corre brejeiro e cheio de cheiros, madrigal. Se esconde nas cercanias de casarios perdidos no tempo ao vento qu...