Por Edmilson Siqueira
O título em inglês vem do próprio disco gravado por Nara: My Foolish Heart. É o nome de uma música, aliás, um clássico do jazz, de autoria de Victor Young (música) e Ned Washington (letra). Para Nara cantar em português, Nelson Motta se incumbiu de fazer a letra em nossa língua, que recebeu o título de Descansa Coração e não ficou devendo nada ao original.
O disco todo é de clássicos do jazz e da canção norte-americana. E é a prova de que bom gosto musical não conhece fronteiras. Nara, ligada a movimentos bem brasileiros como a bossa nova (que teve, claro, influência do jazz e, depois, ela própria influenciou não só o jazz, como a música no mundo todo), o protesto do Teatro Opinião, o tropicalismo de Caetano e Gil e compositores dos morros cariocas, mostra, nesse disco, que não estava restrita ao que se produzia no Brasil, e que sempre esteve atenta a tudo que se fazia no mundo e que tinha qualidade.
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My Foolish Heart foi o último disco de Nara, gravado em 1989, mesmo ano em que ela morreu, aos 47 anos, vítima de um tumor cerebral. Ele foi feito a pedido de uma produtora japonesa, e seria o show que Nara e Menescal fariam em outubro daquele ano, no Japão, mas não deu tempo, pois Nara morreu em julho. O disco foi gravado nos estúdios do próprio Menescal, no Rio e dele constava, inclusive, um jingle de uma cerveja japonesa, que patrocinaria os show no Japão.
O disco teve a participação dos músicos Luís Avelar (teclados), Jacaré (baixo), Rubinho (bateria), Barney (percussão) e o próprio Menescal no violão. Todas as versões são de Nara e de Nelson Motta. Com exceção para Alguém que olhe por mim (Someone to watch over me, de George & Ira Gershwin), que é assinada por Zé Rodrix e Miguel Paiva.
A produção e os arranjos de Menescal garantem a qualidade das 15 faixas (o LP original tem 14 e o CD tem uma faixa a mais que, provavelmente, não coube no vinil).
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O jornalista e escritor Artur Xexéo é quem escreve na capa do LP, texto que não foi inserido no CD. Depois de dizer que Nara e Menescal transformam tudo em bossa nova, ele acrescenta: "O resultado é uma delícia. Mas, como sempre, não serve para ouvidos acomodados. My Foolish Heart dá continuidade ao LP anterior de Nara e Menescal, Meus Sonhos Dourados. Daquela vez, a dupla verteu para o português o repertório que ouvia nos cinemas nos tempos de adolescência. Tea For Two, Over The Rainbow... Agora, a escolha foi dos japoneses e a seleção é mais radical. Ouvidos menos abertos aos rumos sempre surpreendentes de Nara certamente vão rejeitar a transformação de My Funny Valentine, de Rodgers & Hart, em Adeus No Cais; ou de Night And Day, de Cole Porter, em Só Você, ou ainda de Smoke Gets In Your Eyes, de O. Harbach & Jerome Kern, em Fumaça Nos Olhos. É puro preconceito. Ou nesta altura do campeonato alguém ainda duvidaria do bom gosto de Nara Leão?"
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O fato é que esse disco acabou sendo o encerramento de uma carreira musical que não encontra paralelos e que ficará para sempre na memória de todos os amantes da boa e sofisticada música popular brasileira.