sexta-feira, 4 de março de 2022

Se gênio há, coloquem Totonho lá

Por Ronaldo Faria

Antonio Villeroy tinha tudo para ser advogado. Afinal, esse gaúcho de São Gabriel é filho de dois causídicos e tem um irmão na mesma profissão. Entretanto, ele e outro irmão – Gastão – decidiram seguir os caminhos das notas, letras e acordes. Ainda bem. Advogados nós já temos muitos, mas doutores dos sons, com a qualidade dele, estamos sempre a precisar. Ele já tem dez CDs. Aqui vou me ater ao Sinal dos Tempos, que foi gravado ao vivo em 5 e 6 de abril de 2005 com a participação da Orquestra de Câmara do Theatro São Pedro (SP) e que teve participações de João Donato, Ana Carolina e Daniela Procópio. Esse show virou também DVD (ele tem quatro DVDs no mercado) e já deixo aqui o endereço para assistir: https://www.youtube.com/watch?v=a5ax0YtRHUc. Já o CD está disponível no Deezer, Spotify, YouTube Music e Amazon Music. O trabalho é imperdível para quem ama a música de qualidade.

Antes de falar do Sinal dos Tempos em si, vou dar alguns números sobre Antonio Villeroy. Seus parceiros de composições são do Brasil (21), Camarões (1), Colômbia (3), Cuba (2), Estados Unidos (11), Espanha (2), França (1), Itália (2), República Popular do Congo (1), Senegal (1) e Venezuela (2). Entre os brasileiros estão artistas como Ana Carolina, Elisa Lucinda, Ivan Lins, João Donato, Jorge Mautner, Jorge Vercillo e Seu Jorge. Ao todo, 125 artistas e bandas, nacionais e do exterior, já gravaram músicas dele. Gente como Belchior, Benna Lobo, Dora Vergueiro, Ednardo, Gal Costa, Ivan Lins, Luciana Mello, Luiza Possi, Maria Bethânia, Marcelo Onofre, Maria Gadú, Paula Lima, Preta Gil, Renato Borghetti, Toninho Horta e Zizi Possi, além dos seus parceiros antes citados. Já fez músicas para filmes (9), novelas (18), teatro (9) e espetáculos de dança (3). Indicações e premiações aqui e fora são incontáveis. Enfim, Antonio Villeroy, o Totonho, é alguém muito além do normal no patamar da MPB. Na verdade, ele é de outro universo sonoro e real. 

Em Sinal dos Tempos temos 18 músicas. São elas: É Onde o Seu Lugar, Sinal dos Tempos, Amores Possíveis, Pra Rua Me Levar, Etnicpunklingua, Siamo Così (com Daniela Procópio), Ela Não Sabe Dizer Adeus, São Sebastião, A Paz e Música no Gravador (com João Donato), Um Dia Pra Vadiar, Garganta, Cafetín de Buenos Aires, Una Loca Tempestad, Da Laia Do Lama e Que Se Danem os Nós (com Ana Carolina), Majestade e Quero Pegar. À exceção de A Paz (João Donato e Gilberto Gil) e Cafetín de Buenos Aires (Enrique S. Discépolo e Mariano Mores), todas as outras músicas são composições próprias ou em parceria.

E é difícil dizer qual a mais incrível, simplesmente por que não há como classificar assim. Todas são incríveis. O disco inteiro, lançado em 2006, é um daqueles que eu nunca enjoei de ouvir. E olha que consumia CDs (quando eles eram vendidos) numa profusão absurda, além de capturar milhares em MP3. Muitos (a maioria) ouvi uma vez, outros tantos vários e centenas sequer ouvi e poucos voltam a rodar no laser dezenas de vezes. Sinal dos Tempos é um desses. Afinal, é um universo de notas e acordes, letras e harmonias que já valeram muitos textos meus madrugadas a fora. Sem dúvida, são minutos ganhos para os ouvidos e emoções. Não os deixe passar.

Duas coisas: o texto no Wikipédia sobre o Totonho é muito bom e mostra a sua grandeza musical em detalhes e há uma música preferida em Sinal dos Tempos – Amores Possíveis.

quinta-feira, 3 de março de 2022

Noel Rosa e Ivan Lins: um encontro inesquecível (1)

Por Edmilson Siqueira 

VIVANOEL. Com esse título, Ivan Lins gravou nada menos que dois CDs só com músicas do poeta da Vila. E ainda tiveram a sacada de aproveitar o nome para destacar o IVAN que aparece ali no meio.  

Mas, sacadas gráficas à parte, os dois discos são excelentes. Claro que a obra de Noel Rosa ajuda e muito, mas aqui ela foi tratada não só com o respeito que merece, mas também com o máximo possível de qualidade.   

Foram três meses de gravações - fevereiro, março e abril - de 1997 e o resultado não poderia ser melhor. Tão bom que, pra cada disco escreverei um artigo que serão publicados em dois dias. 

Ivan, inteligentemente, não tomou o trabalho de homenagear um dos maiores compositores brasileiros (que morreu com 26 anos!) sozinho. Além de um time de instrumentistas de primeira grandeza, convidou cantores, sambistas e outros artistas para cantar Noel.  

Aliás, cabe aqui um detalhe que consta do encarte do primeiro disco, escrito por João Máximo, autor, junto com Carlos Didier, de Noel Rosa, Uma Biografia. É que Ivan Lins é um dos mais consagrados compositores brasileiros. Sua fama nos EUA, por exemplo, é talvez até maior que no Brasil. E é sobre essa fama que escreve João Máximo logo no começo de seu artigo: "Peço licença pra falar de duas experiências pessoais e musicais que vivi em Nova York, uma em 1987, no clube noturno Blue Note, e outra em 1997, no camarim de Zizi Possi, no Avery Fischer Hall, um dos teatros do Lincoln Center. Na primeira, depois de cantar soberbamente uma canção que eu não conhecia, a grande Carmen McRae dirigiu-se ao público e desabafou: 'É uma pena que já não se façam muitas canções como esta. Seu autor é um jovem brasileiro: Ivan Lins.' Na segunda experiência, depois de me apresentar a Blosson Daire -  Blosson Daire que, para muitos de nós, curtidores de jazz e da melhor canção americana, não é uma intérprete, mas a intérprete - ouvi dela o seguinte: 'Vou gravar em meu próximo disco meia dúzia de canções do maior compositor brasileiro desde Tom Jobim: Ivan Lins."  

O primeiro disco começa com um partido alto que Noel Rosa e Marília Batista improvisavam sobre versos de João Mina no Programa Casé, pioneiro no rádio, apresentado na Rádio Philips do Rio de Janeiro entre os anos 1930 e 1940. E para cantar e versejar De Babado, Ivan Lins convidou ninguém menos que Zeca Pagodinho, Nelson Sargento e Nei Lopes. 

Depois dessa introdução de gala, o disco prossegue na mesma batida: Gago Apaixonado extremamente fiel ao original gravado pelo próprio Noel, tem participação especial do grupo Nó Em Pingo D'Água. 

As Pastorinhas (parceria de Noel com João de Barro), uma das mais belas marchas-rancho do Brasil, tem arranjo de cordas Jacques Morelenbaum sobre um arranjo de base do próprio Ivan Lins.  

A música seguinte é daquelas joias de Noel que poucos conhecem: Cansei de Pedir e, para apresentá-la, Ivan Lins trouxe Chico Buarque de Holanda para lhe fazer companhia, além do Nó Em Pingo D'Água. A música foi feita por Noel nos anos de 1930, mas poderia ser um samba deste século, tal a atemporalidade da obra do Poeta da Vila.    

Outro excelente samba de Noel, em parceria com Vadico, chamado Provei, foi escrito originalmente para o Carnaval, mas é um samba triste e assim ele é apresentado por Ivan Lins e Claudio Lins.  

Voltando aos clássicos de Noel, em outra parceria com Vadico, aliás, a primeira entre eles, Ivan Lins canta Feitio de Oração, uma incrível letra de Noel sobre o samba de Vadico. 

A crítica social de Noel se evidencia em Onde Está a Honestidade? Diz a história que o samba foi feito contra poderosos desonestos que perseguiam seu honesto pai, funcionário da Prefeitura do Rio.  

Outro samba desconhecido, Vai Haver Barulho no Chatô, parceria com Walfrido Silva, tem história curiosa. A primeira parte já estava pronta e Walfrido, exímio baterista, acordou Noel em sua casa para fazer o resto. Diz a lenda que Noel escreveu meio acordado, meio dormindo. E claro, saiu um ótimo samba.  

Em 1932, Noel já cantava essa música (uma obra-prima, diga-se) num clube do Riachuelo. Foi ali que que a cantora Marília Batista o conheceu. E só veio a gravar Verdade Duvidosa em 1963. Para o disco, Ivan Lins divide os vocais com Leila Pinheiro. Precisa dizer mais? 

Para Me Livrar do Mal, a faixa seguinte, é uma parceria de Noel com Ismael Silva e Francisco Alves. Esse último talvez só tenha dado o nome para gravar o samba. Mas o importante é que essa música a primeira de Noel e Ismael. Outras dezessete se seguiriam, na mais profícua parceria de Noel.  

Nessa mesma toada de prazer e qualidade, o disco prossegue com o clássico Fita Amarela, com Cor de Cinza, onde o poeta Paulo Mendes Campos viu "o mais belo e hermético poema impressionista do nosso cancioneiro popular", com Vejo Amanhecer, Mulher Indigesta, Pela Décima Vez, o famosíssimo Conversa de Botequim, Adeus, e, por fim, Seja Breve. 

Enfim, trata-se de um disco que não só recupera grandes - e muitas vezes esquecidas - obras de Noel, como nos dá o prazer de ouvir um trabalho muito bem feito com grandes artistas brasileiros. Imperdível.   

Os dois CDs estão disponíveis para audição no YouTube: https://www.youtube.com/results?search_query=Via+Noel+Ivan+Lins 

quarta-feira, 2 de março de 2022

Que Euphoria nos ensine e nos dê a playlist

Por Ronaldo Faria

Nesta Quarta-feira de Cinzas venho falar não de um disco, CD ou DVD. Vou me ater ao soundtrack (trilha sonora para nós tupiniquins) de uma série envolvente e que realmente é referência de qualidade em cinema – Euphoria. Gosto de cinema, sempre gostei. Pensei, no passado, fazer Faculdade de Cinema na UFF (Universidade Federal Fluminense), mas optei por Jornalismo. E fui cair na PUC/RJ. Entretanto, no meu trabalho de conclusão de curso (TCC) acabei tendo o Silvio Tendler, cineasta que é referência no documentário nacional, como meu orientador. Tive dois períodos com ele no curso, anteriormente, e ele me aceitou como orientando. Acabei tirando 10 no fim de tudo, com um trabalho sobre como a imprensa tratou, em charges e cartuns na mídia impressa (jornais e revistas da época), o Golpe de 1964 – seus anos logo anteriores e os posteriores. Enfim, não fiz cinema, como queria, mas tive o grande Silvio como professor e referência em informação fidedigna de como se contar a nossa história recente. O que tomei como exemplo e tentei seguir no Jornalismo. 

Mas, voltemos à trilha sonora de Euphoria. É possível encontrá-la em todas as principais plataformas de música, além de vários sites e endereços deste mundo virtual (Spotify, Deezer, Amazon Music, no https://www.letras.mus.br/playlists/1001354/ e tantos outros), com número de músicas maior ou menor. Há pop, country, jazz, k-pop e hip hop. Ou seja, música para todos os gostos. E todas igualmente envolventes como a série, que teve o capítulo final da segunda temporada no último domingo (27/2) na HBO Max e na HBO. Integram essa playlist, BTS, Tove Lo, Madonna, Ai Bendr, Stratus, Kash Doll, Lana Del Rey, J. Balvin, Donny Hathaway, The Flamingos, 2Pac, Townes Van Zandt, Willy William, Lizzo, Arcade Fire, Bobby Darin, Billie Eilish, Beyoncé, Labrinth, Rosalía, Nahalia Jackson e Bulletboys, entre tantos outros. 

As composições de jazz arrebentam. Mas, de todas as músicas da série (ouçam e assistam), Summertime, com Nahalia Jackson, é o ápice, pelo menos para mim. E olha que já ouvi essa música em diversas gravações (e a mais fantástica delas com a imortal Janis Joplin). Para ouvir é https://www.youtube.com/watch?v=0M4zUEGkdBw. Há também uma composição de minha juventude –  I’m Not In Love, agora com Kelsey Lu, que se supera. E até de antes – More, com Bobby Darin. Há outras desse período. Mas, deixemos as músicas, que casam em cada cena como se fossem feitas umas para as outras (talvez graças à coordenação musical do rapper, cantor, compositor, produtor musical, ator e empresário canadense Drake), e falemos um pouco de Euphoria, a série.

Ela gira em torno de Rue Bennett (Zendaya), uma jovem de 17 anos, dependente de drogas e em conflito consigo mesma e o mundo à sua volta. Ela se envolve com Jules (Hunter Schafer), uma adolescente transgênero. Mas o roteiro perpassa em outros personagens com igual intensidade. A trama gira em torno de um grupo de estudantes do ensino médio enquanto eles navegam no amor e nas amizades em um mundo que tem drogas, sexo, rotina da vida e todos os problemas e inseguranças que os jovens têm nesse período (como depressão, descobrir seu gênero, se aceitar, ansiedade e a busca por um caminho na sociedade e no seu universo particular). Enfim, um reflexo atual e pleno dos nossos tempos. Com indicação etária de 18 anos, Euphoria é um verdadeiro soco no estômago (no bom sentido) para quem acha que entende o que a maioria dos nossos jovens passam hoje, quando a aceitação geral ou a rejeição, tão instantâneas e cruéis no nosso mundo virtual, transformam vidas e pessoas. Na verdade, um espaço complexo e instantâneo entre ser e estar no mundo real. 

Os atores são incríveis. Zendaya (atriz, cantora e compositora que já faturou um Prêmio Emmy na categoria de melhor atriz em série dramática em 2020 pela sua atuação em Euphoria) é além da conta. Ela também é produtora executiva. Mas todos do elenco arrebentam. A direção arrebenta (o criador, diretor e roteirista é Sam Levinson). A fotografia idem. Quem trabalhou na edição merece aplausos mil. Enfim, esperemos que a terceira temporada venha algum dia. Com certeza teremos uma nova trama imperdível, atuações memoráveis e uma trilha sonora de tirar o chapéu. Esperemos, pois. É isso: vejam, busquem as playlists das duas temporadas e descubram o melhor e o pior de cada personagem. O melhor e o pior de cada um de nós. Afinal, eles são jovens e atuais, mas pouco diferem daquilo que fomos, tentamos ser ou ainda somos. 

Ps.: uma outra dica, que não está na série, https://www.youtube.com/watch?v=R9AHAqu_bis. São três horas do melhor jazz e lounge bar. Para virar parte da noite ou da madrugada ao lado de alguém, de um copo ou um bom livro.

terça-feira, 1 de março de 2022

Aldir Blanc, a homenagem aos 50 anos do mestre

Por Edmilson Siqueira 

O grande Aldir Blanc ainda poderia estar entre nós. Morreu de covid e do desleixo de um governo assassino que atrasou ao máximo a compra de vacinas. Ele, pela idade, estaria na primeira fila e hoje poderia estar escrevendo as letras mais incríveis, as crônicas mais realistas, lendo tudo que lia na sua obsessão por livros e nos encantando com sua produção artística. 

Ele se foi em maio de 2020 e seu legado já foi cantado em prosa em verso por aí. É, sem dúvida, um dos maiores letristas do Brasil de todos os tempos, no mesmo nível de Chico Buarque, Jobim, Vinicius, Paulo Cesar Pinheiro e outros gigantes da MPB.  

Com o parceiro João Bosco (outro gênio da MPB que estará por aqui muitas vezes, com certeza), Aldir escreveu pérolas, bem como com alguns outros parceiros menos constantes. E, além de Bosco, um disco em homenagem aos 50 anos de Aldir, lançado em 1996, reúne grandes nomes, num trabalho magnífico, tanto pela qualidade das composições - todas de Aldir com vários parceiros - quanto pela excelência das gravações e pelo cuidado com a apresentação do disco: uma caixinha com o CD e um encarte completo, com muitas fotos, todas as letras e informações técnicas sobre a gravação. Além de um emocionado texto do amigo e produtor do disco Marco Aurélio que diz, entre outras coisas: "Esse disco nasceu de um sonho antigo, de fazer, junto com Aldir, um projeto com a dimensão que um gênio, como ele, merece." 

Pode-se dizer que o disco mostra a essência de Aldir, pois traz algumas joias de sua parceria com João Bosco, mas também canções raras e magníficas que ele fez com Guinga, Edu Lobo, Raphael Rabelo, Bororó, Lucia Helena, João de Aquino, Cacaso, Claudio Cartier, Claudio Jorge, Paulo Emílio, Moacyr Luz, Maurício Tapajós, Paulo César Pinheiro, Ed Motta, Ivan Lins, Paulo Emílio, Gilson Peranzetta, Marcio Proença, Cristóvão Bastos e até uma "parceria" com os gringos Glen Miller e Mitchell Parish, numa versão de Moonlight Serenade. 

Como é um disco homenagem, cabe até um pequeno discurso de ninguém menos que Dorival Caymmi abrindo os trabalhos. O grande mestre baiano diz, entre outras coisas que "estamos falando do ourives do palavreado. Estamos falando da poesia verdadeira..." 

Outra novidade no disco é Aldir Blanc cantando e ele o faz com propriedade, vencendo a velha timidez. Anel de Ouro, em parceria com Raphael Rabello nos revela um Aldir maduro, cantando seus próprios versos, uma canção de desilusão amorosa, cujo símbolo da paixão (o tal anel de ouro do título) acaba no prego, devidamente empenhado. Aldir puro. 

Mas, se Aldir cantando é uma grata surpresa, outros intérpretes da coletânea são a constatação de que a MPB jamais morrerá por falta de grandes cantores. A seleção é das melhores. 

A voz delicada de Carol Saboya abrindo o disco com Carta de Pedra; Edu Lobo em Pianinho; Nana Caymmi e Danilo Caymmi em Siameses; Rolando, no delicioso samba Na Orelha do Pandeiro; o Arranco de Varsóvia em Vim Sambar; um coro com o próprio Aldir mais os bambas Wilson das Neves, Wilson Moreira, Valter Alfaiate Ney Lopes na divertida Mastruço e Catuaba; um pout porri com Nação, Querelas do Brasil e Saudades da Guanabara magnificamente cantado por Emílio Santiago; Ed Motta em Crescente Fértil; Ivan Lins em Pequeno Circo Íntimo; Leila Pinheiro em Cegos de Luz; Fátima Guedes em Maçã Tatuada; Clarisse Grova em Reencontro; Cris Delano em Sonho de Válvulas; Paulinho da Viola em 50 Anos; MPB-4, Betinho (sim, o irmão do Henfil) e um enorme "Coral da Vida" para o grand finale do disco com O Bêbado e a Equilibrista. 

Com produção impecável em todos os sentidos, o disco é uma grande homenagem, mais que merecida, ao autor de letras que estarão eternamente na memória dos brasileiros, emaranhada na nossa cultura a incomodar os acomodados, a desafiar os poderosos e nos encantar com uma poesia nua e crua saída da inspiração de um grande mestre. 

O CD completo está disponível no Youtube em https://www.youtube.com/watch?v=64TIsAy-Q24 

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022

AVISO!

Por conta das folias de Momo, o artigo do Ronaldo Faria, que deveria sair hoje, fica suspenso. O autor retorna à labuta na quarta-feira. Com vocês, um pouco do Carnaval sem Carnaval.
https://www.youtube.com/watch?v=b__EHoYnFiA

sábado, 26 de fevereiro de 2022

A live do Gil que espalhou sofá

Por Ronaldo Faria

Infelizmente, as festas juninas estão há dois anos longe do Nordeste (será que este ano as teremos?). E isso é muita dor para quem tem nessa região do país as suas raízes culturais e familiares, como as tenho. Mas, no CD São João em Araras – Ao Vivo, lançado no final do ano passado, Gilberto Gil aprontou na sua casa na cidade fluminense de Petrópolis, no bairro de Araras (onde ficou em quarentena por causa da pandemia) um forrozão. Numa live que teve a participação especial da filha Preta Gil (que tinha acabado de sair de uma Covid), ele mostrou em quase uma hora e nas 16 músicas incluídas que o xote, o forró e o xaxado não morrerão nem com um vírus microscópico ou nas trevas que a cultura brasileira vive hoje. E o certo é que ambos pesadelos têm data para acabar. Afinal, não há mal que dure para sempre, como diz o ditado popular. E este CD mostrou que é possível juntar o par abraçadinho, levantar a poeira do terreiro da nossa casa e viver na sanfona e no zabumba o sonho da essência regional daquilo que a MPB tem de melhor.

Gilberto Gil tem na sua discografia outros discos que remetem aos festejos juninos. Deles, Fé na Festa, de 2001, é um exemplo.  Mas no mundo nordestino desse artista há ainda As Canções de Eu, Tu e Eles e o São João ao Vivo, além do CD/DVD Fé na Festa ao Vivo, gravado no Retiro dos Artistas, no Rio de Janeiro. Já neste novo disco, advindo da live do ano passado, de todas as músicas inclusas o mestre Luiz Gonzaga é lembrado em oito composições. A ele se unem obras de Dominguinhos e Anastácia, Targino Gondim e do próprio Gil. A live é um grande unir de família. Tem Preta Gil, Bem Gil (guitarra), José Gil (percussão e vocal) e Nara Gil (backing vocal), além de Mestrinho (sanfona) e Jorginho Gomes (zabumba). Nela, Mestrinho lembra num momento das dificuldades de viver sem o São João por causa da pandemia que desfez a realização das festas nos últimos dois anos, mas lembra que dá para tirar o sofá da sala e forrozar, xaxar ou xotear. 

Senão, como o próprio Gilberto Gil fez questão de dizer ao fim do São João em Araras, “como dizia Dona Canô, quem não morre, envelhece”. E nessa live ele comemorou mais um ano de vida. Na casa serrana da família que ele chama de “A Linha e o Linho”, ouviu parabéns pra você e mostrou que ainda dá no couro, feito mostra a música Óia eu Aqui de Novo. Na verdade, nosso ex-ministro da Cultura e hoje imortal da ABL parece não envelhecer. Como os bons vinhos, rejuvenesce a cada obra. Na live ele segura a onda sem intervalo, sem edição e regravação. É ele 100%. Totalmente Gil. Genial. E como amo ele de paixão, fica difícil não gostar de tudo que faz. 

Neste CD, encontrado em todas as principais plataformas digitais, para nossa alegria, Gil nos traz o seguinte repertório: Fé na Festa, Dança da Moda, Óia eu Aqui de Novo, Assim Sim, Respeita Januário, O Xote das Meninas, Eu Só Quero um Xodó, Asa Branca, A Volta de Asa Branca, São João Xangô Menino, Me Esperando na Janela, Qui Nem Jiló, Pedras Que Cantam, Isso Aqui Tá Bom Demais, Toda Menina Baiana e Olha Pro Céu. Enfim, como este é um disco que se acha fácil na internet, não deixe de ouvir e curtir. É um convite à alegria, a paz, a saudade e o Nordeste. Afinal, vai que uma nova variante desse vírus, que não é uma gripezinha ou sequer um resfriadinho, como quis plantar alguém que não merece nem ser nominalmente citado, surge e ficamos outra vez sem o São João... Torçamos para que não. Não merecemos. A felicidade e a alegria têm que ser urgentemente replantadas dentro do coração de cada um de nós. Em São João em Araras – Ao Vivo as sementes estão aí prontas para brotar. É só deixar jogá-las no chão das nossas vidas. Enfim, “vamos pra frente que para trás não dá mais”.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2022

Revista do Samba faz jus ao nome

Por Edmilson Siqueira 

Eles estão há 23 anos na estrada, já gravaram cinco discos e realizaram shows pelos quatro cantos do mundo. É o Revisa do Samba que tenho acompanhado há um bom tempo, depois que comprei o primeiro CD do grupo, gravado em 2002. Os outros eu tenho arquivado no micro e são todos de ótimo nível. Formado por Letícia Coura na voz e cavaquinho, Beto Bianchi no violão e voz, e Vitor da Trindade na percussão e voz. 


O primeiro disco, Revista do Samba, foi feito na Traumton Records/Robdigital e dele constam clássicos do samba, todos com arranjos novos e muito bem interpretados.  


Logo de cara, após uma vinheta, o grupo entra com Lata D'Água, de Luís Antônio e Jota Júnior (dois capitães do Exército, no Rio), o samba campeão do Carnaval de 1952 na voz de Marlene. Aqui, sem frescuras, o samba é apresentado limpo e correto, com percussão, violão o e cavaquinho.  

A faixa seguinte, Atire a Primeira Pedra, de Ataulfo Alves e Mário Lago, é apresentada em dueto, quase à moda dos antigos conjuntos de samba. Gravado por Orlando Silva em dezembro de 1943, o samba estourou no Carnaval de 44 e até hoje é cantando por aí. Aqui, a gravação começa à capela, mas logo ganha o ritmo e os acordes do grupo.  

O grande Monsueto Menezes e Ayrton Amorim assinam a próxima música, nada menos que Me Deixa em Paz, um sucesso do Carnaval de 1952, que chegou a ser gravada até por Milton Nascimento. O Revista do Samba não deixa por menos: também executa a música em andamento lento, num dos momentos mais marcantes do disco. 


Mais um clássico na fila: De Conversa em Conversa, de Lucio Alves e Haroldo Barbosa, eternizado por Marlene e muitos outros cantores de MPB. O samba, de 1947, mas com jeito de bossa nova e próprio para ser cantada com divisões quase jazzísticas, sobrevive até hoje com uma modernidade de dar gosto.  


O samba, quase hino, A Voz do Morro, de Zé Kéti, de 1956, chega com um violão lento e uma batucada forte que domina todo o resto da interpretação do Revista, sumindo apenas no final onde predomina novamente o violão, numa espécie de introdução para a próxima música: Leva Meu Samba, do mestre Ataulfo Alves, composta em 1941. 


O mais antigo samba de que se tem conhecimento e a primeira gravação do gênero, Pelo Telefone (Donga e Mauro de Almeida), de 1917, não podia faltar nessa coletânea de clássicos. Gravado com toda reverência pelo Revista.  


Assis Valente, outro histórico compositor de sambas, comparece na voz do Revista com Por Causa de Você, Yoyô, de 1937 que recebeu interpretação humorística do grupo, de acordo com a letra do samba. 


Outro clássico que até hoje povoa nossa memória e que por muito tempo ainda ficará por aí é O Sol Nascerá, de Cartola e Elton Medeiros, escrito em 1960. As apenas oito linhas da letra são acompanhadas por palmas sincopadas evidenciando sua beleza melódica. 


O Samba e o Tango, de Amado Régis, de 1937, talvez não seja tão conhecido pelo nome, mas bastou ouvir as primeiras frases ("Chegou a hora, chegou, chegou) que vem à lembrança um samba rasgado com um intermezzo de tango que lhe cai muito bem. 


A música seguinte foi composta em 1935, mas nesse ano da graça de 2022 ganhou nova gravação para ser trilha de novela da Globo. Por aí percebe-se a perenidade de Tic-Tac do Meu Coração, de Alcyr Pires Vermelho e Walfredo Silva. Composta em 1935, foi gravada por Carmem Miranda aqui e, em 1942, nos EUA. O Revista faz jus à fama da música com uma bela gravação. 

Não Vou Pra Casa, a declaração de amor ao samba de Roberto Riberti e Antonio Almeida, composta em 1941, é apresentada de modo singelo o correto. 


Adoniran Barbosa, nosso Poeta do Bixiga, não poderia faltar numa coletânea de clássicos do samba. E é ele o autor do penúltimo samba do disco, Apaga o Fogo, Mané, o triste samba da mancada que a Inês dá no Mané, na inspirada letra e melodia do grande Adoniran.  

E, pra encerrar, o pai do samba de asfalto brasileiro, o genial Noel Rosa. Três apitos, a enigmática música do Poeta da Vila fecha, com chave de ouro, esse disco dedicado ao samba e com um repertório divinamente escolhido pelo Revista. 


Um fim digno de um disco delicioso desse grupo que, por todos os caminhos em que se envereda, dá conta do recado. Vida longa ao Revista do Samba.  


Os cinco discos deles estão em apresentações especiais no Youtube nesse endereço: https://www.youtube.com/c/RevistadoSambaOficial 

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2022

A viola da Filarmônica que rompe veredas

Por Ronaldo Faria

A viola caipira é incrível, coisa sonora que fala por si e nos remete às plagas mais recônditas da alma do sertanejo, do brasileiro que descobriu com o passar dos tempos, neste instrumento vindo de Portugal com nossos colonizadores, uma assinatura melódica do Interior de São Paulo, do Sul de Minas Sul, de Goiás, Mato Grosso e Norte do Paraná, principalmente. Mas tem a viola nordestina também. Todas arraigadas nas cordas de aço e nas mãos do violeiro que a toca a criar notas mil. Hoje eu vou falar sobre a Orquestra Filarmônica de Violas, criada em 2001, com sede em Campinas e que tem três CDs – o Orquestra Filarmônica de Violas I e II e o Encontro das Águas gravados. O primeiro é de 2005, o segundo foi gravado em 2010 e o terceiro é de 2017. São três CDs que não podem faltar para quem ama esse instrumento e a música de raiz. E uma notícia prazerosa: este ano o grupo completa 20 anos de vida sonora. Logo, que mais 20, 40, 60 e tantos outros venham pela frente!

O primeiro disco, o Orquestra Filarmônica de Violas, tem 14 composições e 33 violeiros. Todas elas clássicos do gênero. Logo na abertura tem Vide, Vida Marvada, do grande Rolando Boldrin, a quem vou dedicar um texto obrigatoriamente logo mais. Nessa música, o arranjo do diretor musical do grupo à época, Ivan Vilela, um ícone e uma referência no estudo das raízes da música brasileira, mantém o lirismo e a poesia melódica. Depois vem Estrada da Vida, de Zé Rico, com vozes de João Paulo Amaral, que viria depois a assumir o lugar de Vilela como diretor musical, e Messias. Daí segue com Canoeiro, de Alocin e Carreirinho, clássico que o ex-presidente JK amava; Asa Branca, de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, numa prova de que o Nordeste pode respirar na viola; a eterna Chalana, de Mário Zan e Arlindo Pinto, com batida no fundo da viola a marcar uma percussão; e Luar do Sertão, de Camilo da Paixão Cearense e João Pernambuco, outro marco da MPB, que tem as vozes de Osório e Ana Luiza ao fundo. 

Na sequência temos a bela Arredores, música e solo de Vinícius Alves; Rio de Lágrimas, composta por Tião Carreiro, Piraci e Lourival dos Santos, uma epopeia de Piracicaba e clássica memorável; Vaca Estrela e Boi Fubá, do poeta nordestino e brasileiro Patativa do Assaré, num ritmo melancólico e que remete às tardes de sol a cair; De Papo Pro Ar, dos grandes Joubert de Carvalho e Olegário Mariano, executada pelo Trio Carapiá; A Moda Mula Preta, de Raul Torres; e Cabocla Tereza, de João Pacífico e Raul Torres nas vozes de duas deusas da MPB – Suzana Salles e Ná Ozetti. Daí rola O Menino da Porteira, de Teddy Vieira e Luizinho, que dispensa falação; e finalmente, para fechar o CD, um pouco de respirar São João com Pula Fogueira, de Amor de João Bastos Filho. E haja vontade de ouvir de novo.

No Orquestra Filarmônica de Violas II, com 21 violeiros no dedilhar, há o início de uma virada de composições e alvo, com um trabalho mais esmerado, abrangente além do sertanejo (que continua como mote) e de beleza inconfundível. Ao todo são 12 músicas. Começa com o Você Vai Gostar (Casinha Branca) do monumental Elpídio dos Santos; vai para o clássico Romaria, de Renato Teixeira, de quem um dia falarei. Ela tem a voz de Ana Gilli para abençoar quem vive como caipira; vem então Primavera Pantaneira, de Messias das Violas e Vinícius Alves, num estilo “rasqueado”; e chega a Correnteza, do Maestro Soberano Tom Jobim com Luiz Bonfá, numa prosa de que o instrumento vive para brincar de poesia. A letra tem a voz do grande Renato Braz, que foi tema de um artigo do Edmilson Siqueira aqui no blog; Anastácio, de Anderson Batista, e a folclórica e eterna Índia, de José Asunción Flor e Manuel Ortis Guerreiro, com versão de Zé Fortuna e a voz de Tetê Espíndola dão o tom depois. 

O Orquestra Filarmônica de Violas II continua com Improviso, de Antonio Madureira, na beleza das violas do Duo Catrumano; Cana Verde, de Tonico e Tinoco nas vozes de Messias da Viola e Osório Cardoso; a eterna Chico Mineiro que João Paulo Amaral e Osório Cardoso cantam no clássico de Tonico e Francisco Ribeiro; Campo Branco, do incrível Elomar, com Lenine Santos a cantar; a Coisa Tá Feia, de Tião Carreiro e Lourival dos Santos; e finalmente São Jorge, daquele que é um mito da MPB – Hermeto Paschoal. Ou seja, música para todos os gostos.

No CD Encontro das Águas há as seguintes músicas: Viola Chic Chic (Tião Carreiro e Zelão), Bachianas Brasileiras nº 5 - Ária (Heitor Villa-Lobos), Fé Cega, Faca Amolada (Milton Nascimento e Ronaldo Bastos), Tocando em Frente (Almir Sater e Renato Teixeira), Alvorada (Chrystian Dozza), Encontro das Águas (Tavinho Moura), Terra Clara (João Paulo Amaral e Luis Felipe Gama), Lamento Sertanejo (Dominguinhos e Gilberto Gil), Brejeiro (Ernesto Nazareth) e Going to California (Robert Plant e Jimmy Page). Ou seja, um passeio por gêneros e tempos onde a viola caipira se inclui e se faz. Até no rock britânico de Led Zeppelin. Neste CD, 17 violeiros resistindo ao tempo e provando que a cada novo disco do grupo há uma amplitude de proposta e a coisa fica ainda melhor. Ou seja, o tempo lapida o diamante que sempre foi de milhares de quilates, mas vira algo maior com cada ano vivido e tocado.

Como disse o diretor musical João Paulo Amaral ao blog Cantares e Esquinas (https://ronaldofaria57.blogspot.com/2021/05/filarmonica-de-violas-de-caipira-ou.html). “A gente não tem vontade de fazer a música tradicional de viola simplesmente como ela foi composta há 50 ou 60 anos. A gente tem necessidade de botar um pouco da nossa geração e mostrar essa possibilidade que a viola traz justamente com a linguagem da música caipira junto com a técnica que a viola vem ganhando nos últimos anos. A abertura de ser um instrumento que toca em diversos universos, não só da música de raiz, como no choro, na música instrumental e muito mais. Há coisas que estavam desde nosso primeiro disco. Estamos dando sequência nisso. Mas há mais. Pensando em responder a esse anseio de todos nós de querer fazer um disco mais sofisticado que o anterior, no sentido do desafio, ao mesmo tempo que o grupo é heterogêneo. Tem gente aqui que ainda não é profissional e os arranjos têm de conceber essas condições de ter um naipe mais simples. Mas o arranjador mesmo assim tem condições de fazer coisas bacanas. Logo, não é dizer que é tudo complicado. A gente usa a inteligência desses arranjadores que trabalham junto com a gente, a maior parte sendo do próprio grupo, para tirar o melhor da orquestra. E trazer desafios.” 

Para Amaral, “o terceiro CD é, com certeza, um disco que demandou muito esforço de cada um, de estudo individual. Eu gosto de lembrar que alguns, por conta do disco, passaram a fazer aulas de música em paralelo, para conseguir facilitar esse processo de aprender arranjos novos. Então, isso é um fato que mostra o movimento do grupo. Ou seja, não é nada vertical do tipo tem que fazer isso e pronto. O próprio grupo é que está se movimentando. E esse é o interesse que a gente tem: de mostrar a viola e ainda mais com a coisa dos solistas, algo que foi um desafio e traz um pouco mais de responsabilidade para a gente. Ao chamar e integrar no projeto caras como Nailor Proveta, Toninho Ferragutti, Fabio Presgrave, Chrystian Dozza, Alexandre Ribeiro e Ricardo Herz, cada um que é exponencial na sua área, a gente quis fazer um trabalho que justificasse chamar esses camaradas. Não é uma coisa a reboque, do tipo tem um figurão lá que foi dar uma força. Não. Nós queremos fazer um trabalho que justifique a presença deles e que eles se sintam felizes de participar de um trabalho como o nosso.” Ou seja, nos preparemos para novos voos para os próximos anos. Com a benção de São Gonçalo do Amarante e quem mais for.

O Orquestra Filarmônica de Violas I e Encontro das Águas podem ser ouvidos no Amazon Music, no Spotify e no Deezer. Já o Orquestra Filarmônica de Violas II não está disponível nessas plataformas.

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